terça-feira, 23 de março de 2010

Kurosawa "faz" cem anos...

... porque pessoas como ele nunca morrem!



Do Nassif.
O cineasta Akira Kurosawa nasceu em Tóquio em 23.03.1910. Antes de se dedicar ao cinema, foi pintor e ilustrador – e bom ilustrador, a ponto de, anos depois, ele mesmo desenhar cenas diversas de seus filmes, especialmente paineis sobre batalhas.

Quando tinha 18 anos, Kurosawa foi surpreendido pelo suicídio de uma de suas irmãs, quatro anos mais velha, que trabalhava como “benshi” (narradora de cinema mudo) e não resistiu à extinção de sua profissão. Superada a crise (mas não a ‘compulsão’, que quatro décadas adiante irromperia), tempos depois foi contratado como assistente de direção; estreava, enfim, no cinema, que exercitou até o fim, em setembro de 1998.

Ligado em história, no perfil dos samurais, na busca da verdade e na honra do ser humano, dirigiu mais de trinta filmes. Entre 1950, quando ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza com “Rashomon”, e 1990, em que foi homenageado com um Oscar pelo conjunto da obra, recebeu vários outros prêmios em festivais como os de Berlim e Cannes, em face de filmes consagrados, com destaque para “Dersu Uzala”, “Os Sete Samurais”, “Ran” e “Kagemusha, a Sombra de um Samurai”.

Abril Notícias.
Filho de militar, Akira Kurosawa queria ser pintor. Para financiar seu sonho, começou a trabalhar na empresa de cinema Toho, como assistente. Em 1943, estreou na direção com "A Saga do Judô". Essa primeira parte da carreira é marcada pelos temas contemporâneos. "Juventude sem Arrependimento", "O Anjo Embriagado", "Duelo Solitário" - conhecido como "A Luta Solitária" -, "Cão Danado".

Em 1951, Kurosawa realizou "Rashomon" e sua história de samurais recebeu o Leão de Ouro em Veneza. O Ocidente descobria, assim, o cinema japonês. No ano seguinte, o diretor voltou aos temas contemporâneos com "Viver". Em 1954, voltou a Veneza com "Os Sete Samurais" e recebeu, na ocasião, um Leão de Prata, correspondente ao prêmio do júri, compartilhado com os cineastas Federico Fellini ("A Estrada da Vida"), Elia Kazan ("Sindicato de Ladrões") e outro grande diretor japonês, Kenji Mizoguchi ("O Intendente Sansho").

Dostoiévski e Shakespeare

Nos anos 1950, enquanto Kurosawa conquistava a consagração internacional, no Japão ele provocava polêmica e recebia duras críticas. Alguns diziam que ele tinha se tornado ocidental demais. Suas referências eram a literatura ocidental - os russos, Gorki, e Dostoiévski, Shakespeare e Hollywood. A fase final foi marcada por obras testamentais - o ecológico "Dersu Uzala, Kagemusha, a Sombra do Samurai"; "Ran", que se baseia no "Rei Lear"; e "Madadayo". Kurosawa ganhou os maiores prêmios do mundo - a Palma de Ouro em Cannes, o Oscar de Hollywood. No Japão, foi chamado de Imperador. Em meados dos anos 1960, ele rompeu com seu ator fetiche, Toshiro Mifune. Mestre do paradoxo e do movimento, Akira Kurosawa morreu em 1998, aos 88 anos, consagrado como um dos maiores artistas do cinema mundial. As informações são do Jornal da Tarde.

Aqui, o arquivo digital Kurosawa.
Em japonês.
Mas dá pra fuçar mesmo assim!
Usa a tradução do Google.
Ajuda...

Capa do meu filme favorito:

sábado, 20 de março de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

Big Mac. Caro o suficiente?

Do UOL.

Big Mac brasileiro é o terceiro mais caro do mundo.
De acordo com o Big Mac Index, medido pela revista britânica The Economist, o sanduíche nos Estados Unidos custa US$ 3,58, o que confere ao país a oitava posição entre os lanches mais caros do mundo.

O Brasil não está incluído na lista divulgada nesta quarta-feira (17). Porém, tendo em vista que o sanduíche no país custa R$ 8,75, seu preço em dólares fica em US$ 4,97 (com base na cotação de fechamento em 16/03), atrás apenas da Noruega (US$ 6,87) e da Suíça (US$ 6,16).

Depois do Brasil, aparecem na lista a Zona do Euro (US$ 4,62), o Canadá (US$ 4,06), a Austrália (US$ 3,98), a Hungria (US$ 3,75) e a Turquia (US$ 3,71).


Bem que poderia ser o mais caro. Assim, talvez, as pessoas comessem menos esta porcaria...

terça-feira, 16 de março de 2010

O avanço e o retrocesso. Aqui e lá.

O Brasil quase não consegue andar. Cada vez que um passo é dado, vem os veeeelhos #@*& de sempre e puxam a corda com toda a força pra trás. Ás vezes eles até se antecipam e colocam a corda na frente, que é pra ver se ele cai de uma vez. Mas ainda bem que o Brasil tem um lado teimoso, que não se entrega, que não desiste. E graças a esse lado, um pouquinho a gente anda. Agora é o melhor momento pra ver os #@*& em ação! Vai no 10, no 12, no 5, vai em qualquer um, compra os correios e globos e seus similares nazistóides (aqui tem a ZH, bem bom) que a canção é uníssona! Quase um coro!
Mas a gente que ainda acredita fica bem faceira de ver um dos nossos de cabeça erguida, falando firme, dando exemplo, sendo "o cara" em qualquer lugar.
Lá no Oriente Médio qualquer punzinho é terremoto.. e ele vai lá e diz que o muro é ruim. Mas aqui a preocupação é puxar a corda. Então vamos lá... eu vou fincar o pé pra ver se não puxam mais, de novo, como sempre...
E falando em Oriente Médio, vai aí um texto bem legal sobre o assunto! Do Vi o Mundo.
Hasta!

Fisk: Leituras para entender o Oriente Médio
Para entender o Oriente Médio… tente algumas leituras


13/3/2010, Robert Fisk, The Independent, Londres

A maior dificuldade para escrever com consciência histórica, é que a história não terminou. Seja como for, se quiser entender a Al-Qaeda, por exemplo, tente o parágrafo seguinte:

“O homem do deserto não merece crédito por sua fé (…). Ele alcançou essa intensa condensação de si mesmo em Deus porque fechou os olhos ao mundo, e a todas as complexas possibilidades latentes nele, que só o contato com a riqueza e as tentações pode trazer à tona. Alcançou uma fé confiável e poderosa, mas em campo tão estreito! Sua experiência estéril roubou-lhe qualquer compaixão e perverteu sua generosidade humana para com a imagem da perda na qual se escondeu (…). Vem daí um gozo na dor, uma crueldade que vale mais para ele que quaisquer bens. (…) Encontrou luxúria na abnegação, na renúncia, na autocontenção. Fez a nudez da mente tão sensual quanto a nudez do corpo. É possível que tenha salvo a própria alma, e sem risco, mas num duro egoísmo.”

É de T.E. Lawrence, em Seven Pillars of Wisdom: a Triumph (1926) [Os Sete Pilares da Sabedoria: Um Triunfo, Rio de Janeiro: Record, trad. C. Machado] – e que perfeição! Sempre lembro essa passagem quando assisto aos videoteipes de Bin Laden. O campo estreito. A abnegação. A crueldade. Não concordo necessariamente com Lawrence, mas em trechos como esse, percebo-me refletindo cada vez mais profunda e intensamente sobre suas palavras.

Digo isso porque várias vezes por ano leitores do Independent pedem-me que sugira “uma lista de leituras” de livros em inglês sobre o Oriente Médio. Não é fácil. A maior dificuldade para escrever com consciência histórica sobre o Oriente Médio, é que a história não terminou. A guerra continua. Os dois “lados” – de fato há muitos, muitos lados – produzem narrativas conflitivas. E não aceito a ideia de que se possa oferecer uma lista equilibrada de livros. Há a versão de Israel. Há a versão dos árabes. Há a versão alucinada dos norte-americanos etc. O Oriente Médio é questão de injustiça. Quem contará melhor a história?

No que tenha a ver com a disputa árabes-israelenses, os dois incomparavelmente melhores livros são The Arab Awakening: the history of the Arab National Movement (Londres, 1938) de George Antonius, e The Gun and the Olive Branch (1977), de meu colega e amigo David Hirst. Antonius escreveu em 1938; Hitler já estava no poder há cinco anos – mas dez anos antes de os palestinos serem ativamente assaltados. – E escreveu que:

“O tratamento imposto aos judeus na Alemanha e em outros países europeus é uma desgraça para os autores e para a civilização moderna. A posteridade não perdoará nenhum país que não assuma a sua parcela de sacrifícios para aliviar o sofrimento e o desespero dos judeus. Impor toda a carga à Palestina árabe é miserável movimento de fuga ao cumprimento do dever moral que cabe a todo o mundo civilizado, além de ser moralmente vergonhoso. Nenhum código moral pode justificar a perseguição de um povo, como meio para aliviar a perseguição de outro. A cura para a expulsão dos judeus da Alemanha jamais será a expulsão dos árabes, de sua própria terra (…).”

Foi o primeiro sinal verdadeiramente eloquente do que estava para acontecer, e Hirst completou a narrativa das muito acuradas predições de Antonius, o primeiro autor, parece-me, a enfrentar o romance-lixo Exodus, com o qual Leon Uris agraciou o Estado judeu – para deleite de Ben Gurion, embora devesse ter pensado melhor –, ao desconstruir o “terrorismo”, sem romantizar os refugiados palestinos e seus movimentos de resistência.

Nesse mesmo contexto, deve-se lembrar o trabalho dos “novos historiadores” de Israel, que criaram uma narrativa complementar. Benny Morris foi o mais proeminente pesquisador israelense a provar que foi intenção de Israel expulsar os palestinos e arrancá-los de suas casas às dezenas de milhares em 1948. O fato de que, depois, Morris não tenha feito outra coisa além de reclamar que a limpeza étnica não tenha sido suficientemente eficaz e ampla não diminui a importância de seu trabalho anterior, seminal.

Dizem que F. R. Leavis, certa vez, iniciou um parágrafo com “Como qualquer leitor-que-preste de poesia sabe…”. Então, acho que podemos dizer que “qualquer leitor-que-preste” de livros sobre o Oriente Médio deve ler Edward Said. Um de seus melhores livros, aliás, é sobre música. Mas Orientalism [Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2003] sempre será necessário em qualquer lista. Said fez filosoficamente e historicamente, pela narrativa do Oriente Médio, o que Antonius fez politicamente. Não estou subestimando o trabalho político de Said – embora vários críticos tenham anotado que Said talvez não tenha levado n a devida consideração a vasta literatura “orientalista” que brotou na Itália, na Alemanha e na Rússia. Mas não o estou condenando como o condenaram Al Dershowitz e sua gangue.

A União Soviética, claro, sempre teve problemas com o Profeta, porque Maomé foi comerciante e burguês. Jesus Cristo, pelo menos, nasceu em família de trabalhador, embora não se saiba se José, carpinteiro, possa ser dito Stakhanovita recomendável. Mas devo dizer que o fato de Maria e José terem tido de viajar até Jerusalém para pagar impostos é absolutamente otomano, de tão burocrático. E que nenhum hotel aceitasse hospedar uma mulher grávida, sim, tem sabor de Oriente Médio. Mas, não, não! Não vá eu, agora, virar “orientalista”!

E há também esse brilhante pensador e jornalista libanês, o saudoso Samir Kassir – muito saudoso, porque foi assassinado há quase cinco anos, e a última coisa que vi dele foi o sangue ao lado do carro explodido – cuja monumental história de Beirute, em inglês, estará nas livrarias esse ano (admito: estou escrevendo o prefácio).

Tudo que você algum dia quis saber sobre Beirute – e muito, receio, que você preferiria jamais saber – está no livro de Kassir. Ele lembra como, há cem anos, um jovem capo di capo cristão – um Costa Paoli – tinha o hábito de beijar o rosto dos cristãos libaneses recém assassinados, antes de que fossem sepultados. Era homem elegante – “uma rosa na lapela e lenço perfumado no bolso do paletó”, segundo o professor Edward Atiyah –, e um gângster; vingava-se dos muçulmanos. Naqueles dias, havia milícias e grupos armados de apoio às comunidades cristãs e muçulmanas, e às vezes, havia briga de rua.

Exatamente como o meu colega David McKittrick descobriu que, na Belfast do século 19, as primeiras lutas de rua ocorreram nos mesmos locais onde aconteceram as batalhas dos anos 70s, assim também já se sabe que, na Beirute do século 19, os conflitos entre as milícias armadas aconteceram nos mesmos locais onde eclodiria a Guerra do Líbano de 1975.

Kassir é o primeiro autor cujo único personagem humano é uma cidade, em cuja bela e terrível história vêem os homenzinhos girando em rodas de tortura. Eu não sabia que o subúrbio onde reina o Hizbollah, Ouzai, recebeu esse nome para homenagear o velho divino Imã Ouzai; ou que o Partido Social Nacionalista Sírio – uma tediosa sociedade pan-árabe – inspirou-se, para criar sua bandeira vermelha, branca e preta (com penas cruzadas), nos nazistas; ou que o palavrão (em árabe) sharmut ou sharmuta – “puta” – e que hoje se usa a torto e a direito, surgiu da tão mais gentil e suave “charmante”, francesa. Lawrence e demais autores, por favor, anotem.