O velho que morreu criança. Última postagem do blog dele.
Jeová não deve ser muito amigo de crianças. Creio, mesmo, em uma secreta cumplicidade entre Ele e Herodes, aquele que mandou matar todas as crianças com menos de dois anos quando lhe disseram que havia nascido um Grande Rei que o superaria.
Na Psicanálise de Freud o “infantil” em nós é mal visto e mal falado, sinônimo de neurótico, regressivo, irracional, imaturo e mais palavrões similares.
Chamar de “criança” ou “infantil” a pessoas adultas é ofensa universal significando, em paralelo com Freud, irresponsável, ignorante, bobo.
No entando, a criança, tanto a de verdade como a que sobrevive em nós, é a semente do possível - é o que pode se desenvolver, a promessa de tudo o que ainda não somos mas poderemos vir a ser.
O ”adulto” ou a “Personalidade Madura” - como diz Giovanni Papini - é um “homem acabado”; acabado, isto é, sem futuro, sem nonvidade, é alguém que ja deu tudo o que tinha a dar - algo esgotado.
A criança interior funciona em nós, como o broto terminal nas plantas - a zona de crescimento contínuo.
A criança interior é, pois, muito imoportante e convem cultivá-la e ouví-la, por mais tolas que suas manifestações possam parecer ( para os adultos!).
A criança - tanto a de verdade como a interior- é o futuro no pressente.
A criança interior - em nós - responde por tudo o que dizemos de nós para nós mesmos “que bobagem”, “inagine!”, “a gente pensa cada uma!”
Nossas bobagens são muito importantes para nós e mais veze sim do que não será necessário vivê-las - ou nos esterelizamos em uma rotina vazia - no tédio do sempre igual.
Ai do adulto que nunca é criança!
A criança ainda não sabe distinguir o que é importante - aos olhos dos adultos. Ela ainda acha que aquilo que acontece uma só vez pode ser mais importante do que acontece muitas vezes.
Morrer, pr exemplo.
Ela acha que o imprevisível é tão importante quanto o costumeiro - é até mais atraente ( e assutador!). Chega ao cúmulo de considerar existentes as coisas sem lógica e de dar a essas coisas bsurdas o mesmo valor dado às coisas sérias e razoáveis (para o adulto).
A criança é muito incomoda. Vive fazendo com que o adulto duvide de todas as suas verdades.
Muito mais fácil dizer “coisas de criança são bobagens”
A criança dá valores iguais ao contingentee ao necessário, leva igualmente a sério o transitório e o eterno, presta a mesma atenção ao universal e ao individual (até mais a este do que àquele.
Já se viu quantos despropositos? Como é possível dar atenção às crinaças?
Criança só pode mesmo dizer tolices e só pode mesmo ser ignorante - porque se ela não fosse, viria abaixo todo o fantástico mundo das certezas dos adultos.
por José Ângelo Gaiarsa, janeiro 24, 2009
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