quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Em defesa do sistema de cotas

A Seppir tem que dar explicações para o DEM...

A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), com o apoio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), realiza hoje (25) videoconferência para discutir as cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB). Será das 9h às 12h.
O sistema de cotas da universidade é questionado pelo Democratas, que entrou com uma ação – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – no Supremo Tribunal Federal. Por causa da polêmica envolvendo o assunto, o Supremo vai realizar, na semana que vem (3, 4 e 5 de março), audiência pública para subsidiar o relator da matéria, ministro Ricardo Lewandowski.

Da Agência Brasil

Por coincidência, li um trecho de um livro que falava, entre outras coisas, sobre a nossa forma inconsciente de reagir às coisas. O livro é "Blink: a decisão num piscar de olhos", de Malcolm Gladwell e o autor se refere ao Teste de Associação Implícita (IAT), utilizado por psicólogos no estudo das "associações inconscientes". Este tipo de teste acontece colocando conceitos diversos em colunas diferentes e algumas palavras vão aparecendo enquanto aquele que faz o teste tem que, rapidamente, (ou intuitivamente) colocá-las em uma das colunas. Eles tb associam conceitos, deixando o teste mais complexo, como o exemplo que o autor coloca no livro. Imagine uma coluna com os conceitos "masculino" e "carreira" e a outra com "feminino" e "família". Aí as palavras vão aparecendo, tipo: Lisa, Lavanderia, Empreendedor, Capitalista, Lar, etc... A pessoa vai colocando em uma das colunas. Quando eles trocam os conceitos de algumas colunas, as pessoas geralmente sentem mais dificuldade, como colocando "masculino" com "família" e "feminino" com "carreira". Daí, na hora de colocar rapidinho nas colunas as palavras, dá um nó, devido às nossas associações inconscientes, geradas pelas informações que recebemos desde bebês. Dentre os vários tipos de testes, encontrados no site https://implicit.harvard.edu/implicit/portugal/, o autor revela que um deles, o Race IAT, provocou maior incômodo. Segundo Gladwell, "no início do teste perguntam quais são suas atitudes em relação a negros e brancos. Respondi, como estou certo de que vocês o fariam, que considero as raças iguais", porém, com sinceridade, o autor revela que teve maior dificuldade na hora de relacionar palavras como "glorioso" ou "maravilhoso" na coluna do conceito "bom" quando este estava ligado ao conceito "Afro-Americano", apesar de não sentir nenhuma dificuldade na situação contrária (bom com Europeu Americano). Ele se diz incomodado, até porque é descendente de jamaicanos! Ele conclui: "então o que significa isso? Será que significa que sou racista, um negro que se odeia? Não exatamente. Significa que nossas atitudes em relação a coisas como raça ou sexo operam em dois níveis. Em primeiro lugar, temos nossas atitudes conscientes. São coisas que optamos por acreditar. (...) Mas o AIT mede outra coisa. Ele mede nosso segundo nível de atitude, nossa atitude racial no nível inconsciente - as associações imediatas e automáticas que surgem antes de termos tempo para pensar. Não escolhemos deliberadamente nossas atitudes inconscientes. (...) O aspecto perturbador a respeito do teste é que ele mostra que nossas atitudes inconscientes podem ser totalmente imcompatíveis com nossos valores conscientes declarados (pp. 81 a 93). Recadinho para o DEM e para todos nós!!! Para complementar, posto um triste exemplo desta realidade.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Modelo critica a indústria da anorexia

Da UOL.

Coco Rocha: O meu ponto de vista sem censura
COCO ROCHA
Do blog Oh So Coco




















Tem havido uma certa comoção em relação aos artigos que saíram sobre mim no “New York Times” e no “New York Daily News”. Como apenas algumas declarações minhas foram publicadas, acho necessário que eu expresse o meu ponto de vista corretamente, sem edições externas.

Sou uma modelo de 21 anos, 15 cm mais alta e dez manequins menor do que a mulher comum americana. Mesmo assim, em algum universo paralelo, sou considerada “gorda”… Este foi o tema de uma grande discussão esta semana e a notícia que saiu por aí foi: “Coco Rocha é muito gorda para as passarelas”.

Seria este o caso? Não. Ainda trabalho e sou requisitada como modelo. Na realidade, eu me vejo mais ocupada do que nunca. Nos últimos anos, eu não ganhei uma grande quantidade de peso, apenas dois centímetros aqui e ali, como aconteceria com qualquer mulher que sai da adolescência.

Mas este assunto do peso das modelos é, e sempre foi, uma preocupação minha. Há algumas decisões morais que parecem muito simples para nós. Por exemplo, não explorar o trabalho infantil e não aumentar o fator de dependência nos cigarros. Quando estilistas, stylists ou agentes forçam crianças a tomarem medidas que levam à anorexia ou a outro problema de saúde para que continuem na profissão, eles estão pedindo para que o público ignore a sua consciência moral a favor da arte.

Claramente, todos nós vemos quão moralmente errado é um adulto convencer uma menina de 15 anos já magra de que ela, na verdade, está gorda demais. É indesculpável que um adulto exija que uma menina perca, de maneira não natural, um peso vital para que seu corpo continue funcionando corretamente. Como pode qualquer pessoa justificar uma estética que reduz uma mulher ou criança a uma magreza esquelética? Isso é arte? É claro que a estética da moda deve embelezar a forma humana, não destruí-la.

Há divergências na indústria a respeito disso. Apesar de haver aqueles que não levam em consideração o bem-estar da modelo, eu tive a honra e o privilégio de trabalhar com alguns dos melhores estilistas, editores, stylists, fotógrafos e agentes, que respeitam da mesma maneira tanto as modelos novas quanto as consagradas. Sei que há muitos outros por aí, com quem eu não trabalhei, que também concordam comigo neste assunto.

O CFDA (Conselho dos Estilistas da América) tem tentando ao máximo corrigir esta questão. Alguns dias atrás, em sua reunião anual, viram todos que estavam na sala em acordo a favor da mudança do “sample size” [o tamanho das peças dos desfiles e mostruários] e da contratação de modelos apenas acima dos 16 anos. É ótimo ver quantos corações estão no lugar certo, porque nós temos de fazer estas mudanças para a próxima geração de meninas.

Como uma mulher adulta, eu posso tomar decisões por mim mesma. Posso decidir que não vou permitir que eu seja degradada em um casting – marchar de calcinha e sutiã com um grupo de jovens garotas, ser apalpada, espetada e cutucada como gado. Eu consegui escapar desse tratamento, porque já tenho uma carreira consolidada como modelo e sou adulta... mas e as meninas novas e aspirantes a modelo?

Nós precisamos de mudanças. Eu ia preferir que não houvesse meninas trabalhando com menos de 16 anos, mas, se este for o caso, adoraria ver as adolescentes sendo acompanhadas por seu tutor aos castings, desfiles e sessões de fotos. O CFDA criou um código para seus membros, e eu adoraria ver toda a indústria seguindo-o. A sociedade legisla um monte de coisas – a proibição do uso de esteróides nos esportes é um exemplo –, é apenas lógico que haja regras de conduta para manter a indústria da moda saudável.

No passado, modelos se pronunciaram sobre o assunto, e foram acusadas de apenas falar algo porque suas carreiras estavam à beira da extinção. Este não é o meu caso. Falei sobre isso pela primeira vez há uns dois anos, no auge do que uma modelo consideraria a carreira ideal, e de fato houve uma reação – aqueles que mais desrespeitavam o assunto, de repente, chamaram-me para trabalhar para eles! Isso foi uma tática de relações públicas e eu não estava pronta para cair nela. Disse: “Não, vamos ver daqui algumas temporadas. Se mudarem, aí trabalharei com vocês”. Eles não mudaram. Eu não trabalhei para eles.

Da minha geração de modelos, estou exatamente onde preciso estar na minha carreira e agradeço por poder usar a minha posição para me expressar ativamente contra isso, com o apoio do CFDA e da “Vogue”. A minha esperança sincera é de que, por meio dos nossos esforços, as jovens modelos um dia serão poupadas da humilhação, da perigosa perda de peso, da depressão que vem com a anorexia e da miséria do abandono de uma indústria envergonhada de vê-las transformadas em mulheres de verdade.

Há os padrões normais em como tratamos uns aos outros e como tratamos crianças. Há aqueles que continuam a atropelar estes valores, mas há também os defensores de um caminho melhor. Espero que os esforços contínuos do CFDA e de todos que respeitam estes valores irão influenciar a opinião dos que estão no lado contrário da indústria, para assegurar uma mudança verdadeira para o melhor.

Texto publicado originalmente em inglês, no blog da modelo canadense Coco Rocha, e gentilmente cedido por sua agência, Elite Model.

Tradução: Fernanda Schimidt

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A gente NÃO se acostuma!

Faz tempo que eu não tenho tempo pra escrever... E eu lembrei disso quando fui lavar a louça ontem. Nada a ver com blogue, mas é que eu já postei aqui minha indignação com a qualidade da nossa água e então, vendo aquela água amarela saindo da torneira pela enésima vez, me lembrei da postagem (dessa vez eu não tirei foto) e me lembrei também de um texto da Marina Colasanti sobre o fato de a gente se acostumar com as coisas. O texto é bem velho e bem conhecido, mas sempre vale a pena reler, pra não esquecer de não se acostumar com as coisas. Nem com a água amarela!


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti, "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O que nós somos...
























Se aprende en la cuna,
se aprende en la cama,
se aprende en la puerta de un hospital.
Se aprende de golpe,
se aprende de a poco y a veces se aprende recién al final
Toda la gloria es nada
Toda vida es sagrada
Una estrellita de nada
en la periferia
de una galaxia menor.
Una, entre tantos millones
y un grano de polvo girando a su alrededor
No dejaremos huella,
sólo polvo de estrellas.

Se aprende en la escuela,
se olvida en la guerra,
un hijo te vuelve a enseñar.
Está en el espejo,
está en las trincheras, parece que nadie parece notar
Toda victoria es nada
Toda vida es sagrada
Un enjambre de moléculas
puestas de acuerdo
de forma provisional.
Un animal prodigioso
con la delirante obsesión de querer perdurar
No dejaremos huella,
sólo polvo de estrellas.

Vale
Una vida lo que un sol
Una vida lo que un sol
Vale

"Polvo de Estrellas", Jorge Drexler.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O centro da Via Láctea

"¿Que hay en una estrella? Nosotros mismos.
Todos los elementos de nuestro cuerpo y del planeta
estuvieron en las entrañas de una estrella.
Somos polvo de estrellas."
ERNESTO CARDENAL, "Cántico Cósmico"

Foto da Nasa.