domingo, 26 de setembro de 2010

Sobre as escolhas e os ideais.

Nestes tempos de eleições, sempre me vem à cabeça Brecht. É que a gente escuta milhares de pessoas cheias de "argumentos" para odiar política, para dizer que tudo é igual e que, por via das dúvidas, é melhor (ou mais seguro) votar na direita... Quando a direita envergonha, com as suas diversas nuances nazi, então é melhor achar alguém "mais ou menos". Alguém que, no fundo, represente "mais ou menos" nada. Ou algo nebuloso, indefinível, mas que, pelo menos, se coloque do outro "lado".
A(s) minha(s) escolha(s), claro, já está(ão) feita(s). Tanto de projeto quanto de candidatos. Ela não deixa de ter contradições e falhas como QUALQUER outra e, com certeza, não é a ideal. Por que, se fosse a ideal, não teria contradições e falhas. E se a ideal, que eu sonho, viesse a ser colocada em prática, não seria mais a ideal e sim cheia de contradições e falhas. E aí, eu teria que ir mais além, teria que buscar novas opções. E no fundo, assim é a vida, em tudo. Nunca teríamos que melhorar se tudo fosse perfeito. E afinal, que define o que é "perfeito"?
A propósito, minha escolha é por Dilma, Tarso, Paim, Abigail, Zulke e Raul.
Hasta!

O analfabeto político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa
dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista, pilantra,
o corrupto e lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

Texto de Bertold Brecht, escritor e teatrólogo alemão (1898/1956)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lula e a mídia

O Brizola Neto postou no Tijolaço. Lula em entrevista para jornalistas do Terra.
No comício em Curitiba o Lula falou em mensagem direta para a mídia: “Eles são os democratas. Os donos do engenho são os democratas e os moradores da senzala são contra a democracia?”
Nesta entrevista, ele diz: "No Brasil - foi o Cláudio Lembo que disse isso para o Portal Terra -, a imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada".
A entrevista inteira está lá no Terra. Vale a pena!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O mensalão da Editora Abril

É claro que essa informação não vai sair na Veja (vulgo Óia), mas dava uma bela capa... poderia ser aquela do Serra sorrindo mesmo ( O Brasil pós Lula). A capa da capa. Já diz tudo!

Altamiro Borges *

Adital

Numa minuciosa pesquisa aos editais publicados no Diário Oficial, o blog descobriu o que parece ser um autêntico "mensalão" pago pelo tucanato ao Grupo Abril e a outras editoras. Veja algumas das mamatas:
- DO [Diário Oficial] de 23 de outubro de 2007. Fundação Victor Civita. Assinatura da revista Nova Escola, destinada às escolas da rede estadual. Prazo: 300 dias. Valor: R$ 408.600,00. Data da assinatura: 27/09/2007. No seu despacho, a diretora de projetos especial da secretaria declara ‘inexigível licitação, pois se trata de renovação de 18.160 assinaturas da revista Nova Escola’.

- DO de 29 de março de 2008. Editora Abril. Aquisição de 6.000 assinaturas da revista Recreio. Prazo: 365 dias. Valor: R$ 2.142.000,00. Data da assinatura: 14/03/2008.

- DO de 23 de abril de 2008. Editora Abril. Aquisição de 415.000 exemplares do Guia do Estudante. Prazo: 30 dias. Valor: R$ 2.437.918,00. Data da assinatura: 15/04/2008.
- DO de 12 de agosto de 2008. Editora Abril. Aquisição de 5.155 assinaturas da revista Recreio. Prazo: 365 dias. Valor: R$ 1.840.335,00. Data da assinatura: 23/07/2008.

- DO de 22 de outubro de 2008. Editora Abril. Impressão, manuseio e acabamento de 2 edições do Guia do Estudante. Prazo: 45 dias. Valor: R$ 4.363.425,00. Data da assinatura: 08/09/2008.

- DO de 25 de outubro de 2008. Fundação Victor Civita. Aquisição de 220.000 assinaturas da revista Nova Escola. Prazo: 300 dias. Valor: R$ 3.740.000,00. Data da assinatura: 01/10/2008.

- DO de 11 de fevereiro de 2009. Editora Abril. Aquisição de 430.000 exemplares do Guia do Estudante. Prazo: 45 dias. Valor: R$ 2.498.838,00. Data da assinatura: 05/02/2009.

- DO de 17 de abril de 2009. Editora Abril. Aquisição de 25.702 assinaturas da revista Recreio. Prazo: 608 dias. Valor: R$ 12.963.060,72. Data da assinatura: 09/04/2009.

- DO de 20 de maio de 2009. Editora Abril. Aquisição de 5.449 assinaturas da revista Veja. Prazo: 364 dias. Valor: R$ 1.167.175,80. Data da assinatura: 18/05/2009.

- DO de 16 de junho de 2009. Editora Abril. Aquisição de 540.000 exemplares do Guia do Estudante e de 25.000 exemplares da publicação Atualidades - Revista do Professor. Prazo: 45 dias. Valor: R$ 3.143.120,00. Data da assinatura: 10/06/2009.

Negócios de R$ 34,7 milhões

Somente com as aquisições de quatro publicações "pedagógicas" e mais as assinaturas da Veja, o governo tucano de José Serra transferiu, dos cofres públicos para as contas do Grupo Civita, R$ 34.704.472,52 (34 milhões, 704 mil, 472 reais e 52 centavos). A maracutaia é tão descarada que o Ministério Público Estadual já acolheu representação do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) e abriu o inquérito civil número 249 para apurar irregularidades no contrato firmado entre o governo paulista e a Editora Abril na compra de 220 mil assinaturas da revista Nova Escola.

Esta "comprinha" representa quase 25% da tiragem total da revista Nova Escola e injetou R$ 3,7 milhões aos cofres do ‘barão da mídia’ Victor Civita. Mas este não é o único caso de privilégio ao Grupo Abril. O tucano Serra também apresentou proposta curricular que obriga a inclusão no ensino médio de aulas baseadas nas edições encalhadas do ‘Guia do Estudante’, outra publicação do grupo.


* Jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB - Partido Comunista do Brasil

domingo, 19 de setembro de 2010

EUA está perdendo o controle em todas as partes do mundo.

MARAVILHOSA entrevista de Noam Chomsky para o TeleSUR. Apesar de estar em espanhol, vale muito a pena o esforço!

Quisiera comenzar preguntándole sobre Irán, Estados Unidos está presionando para que el Consejo de Seguridad de la ONU (Organización de Naciones Unidas) imponga sanciones más duras ¿Hacia dónde va Estados Unidos o Israel, podría invadir o atacar a Irán?

Israel no es predecible. Particularmente en los últimos dos años ha estado compartiendo en maneras muy irracionales, con mucha paranoia en una situación en la que no se puede saber que van a hacer. No creo que ni ellos saben que van a hacer. Están llegando a un punto donde podrían no tener otra salida salvo bombardear a Irán. Pero no lo pueden hacer sin el apoyo de Estados Unidos. Así que la pregunta es si EE.UU. lo autorizará.

Técnicamente, Israel lo podría hacer. Tienen submarinos con misiles nucleares sumergidos profundamente en el Golfo de Pérsico que consiguieron de Alemania.

Teóricamente, podrían atacar a Irán sin pasar por el espacio aéreo. Pero casi todos los ataques que se pueden concebir pasarían por el espacio aéreo de algún país, así que sería difícil que lo hagan sin algún tipo de autorización, por lo menos tácita. Turquía no la va a otorgar. La pregunta es si EE.UU. la otorgaría sobre Irak. Y la otra pregunta es Arabia Saudita. Es concebible que lo intentaría. Yo creo que sería una locura. ¿Y los EE.UU.? (Barack) Obama, quien ha escalado los programas de (George W.) Bush, junto con sus asesores, también se están metiendo en una situación donde podrían no tener una opción. Porque han creado esta idea de la amenaza de Irán. La isla más importante es Diego García, una isla africana donde Gran Bretaña expulsó a todos los habitantes para que EE.UU. pudiera construir una base militar grande, y es una de las bases militares para atacar al medio oriente en Asia Central. Y Obama ha escalado allí. Ha enviado cientos de artillería con penetración profunda llamada "rompe-búnkers" Que están apuntados hacia Irán. Envió instalaciones para apoyar a submarinos nucleares con misiles Tomahawk. Todo esto representa una amenaza directa a Irán. Y las sanciones estadounidenses se están poniendo más duras. Pero es llamativo que afuera de Europa y Japón nadie les está prestando mucha atención. Esos países están de acuerdo con ser sirvientes a EE.UU.

No es el caso en el resto del mundo. Los países no alineados, que es la mayoría de los países en el mundo, han apoyado fuertemente al derecho de Irán de enriquecer el uranio. Pero nadie les presta atención. Son las colonias. Pero es cada vez más difícil de evadir. Turquía, el poder regional más importante, está construyendo oleoductos a través de Irán. Está aumentando el comercio con Irán. Han opuesto las sanciones. Pakistán acaba de abrir oleoductos a Irán. Pero lo que más le preocupa a EE.UU. es China. China simplemente no presta atención a las ordenes de EE.UU. Y si crees que eres dueño del mundo, esto te va a dar miedo. De hecho, el Gobierno de Obama se está desesperando por esto. Apenas hace un par de semanas, el Departamento de Estado emitió advertencias a China, diciéndole si quiere ser aceptado al mundo civilizado, tiene que cumplir con sus responsabilidades internacionales. ¿Qué son las responsabilidades internacionales? Seguir las ordenes de EE.UU. Obedecer las sanciones de EE.UU. Esas sanciones no tienen ninguna fuerza ni siquiera, excepto tienen los medios de la violencia detrás de ellas.

China está contento de obedecer las sanciones de la ONU (Organización de Naciones Unidas) porque son débiles. EE.UU. no puede hacer que aprueben sanciones serias en la ONU. Así que, China aprueba las sanciones de la ONU y no tienen ninguna responsabilidad de seguir las sanciones de EE.UU. Lo más probable es que se están riendo en la Cancillería china porque EE.UU. no puede hacer nada.

Igual a Rusia, siguen con sus relaciones económicas. Están desarrollando sus terrenos de gas natural, etcétera. Es probable que China esté de acuerdo con las sanciones de EE.UU. porque abre las oportunidades económicas a ellos. No tienen que competir con empresas de EE.UU. y Europa. Y las empresas estadounidenses y europeas probablemente estén furiosos por esto. Pero es una política de Estado. También está pasando con las maniobras navales. China ha estado protestando que EE.UU. ha estado haciendo maniobras navales cerca de la costa de China. Estaban muy molestos por el plan de enviar un Aircraft portaviones nuclear Avanzado, nombrado el George Washington, al Mar Amarillo con la capacidad de atacar a Beijing (capital china) con misiles, según los chinos. Aquí en EE.UU. no lo dan importancia. Pero nosotros no reaccionaríamos de esta forma si China estuviera llevándose a cabo maniobras en el Caribe. De hecho, la reacción de EE.UU. es muy interesante, tanto el Gobierno como la prensa. China no está siendo razonable. Están interfiriendo con la libertad de los mares, es decir, nuestra libertad de llevarse a cabo maniobras militares cerca de su costa.

Por supuesto, nadie más tiene ese derecho, sólo nosotros. Y están interfiriendo posiblemente con nuestro despliegue avanzado cerca de su costa. Nadie tiene ese derecho cerca de nuestra costa. Todas estas cosas son reflejos de una ideología imperialista profundamente arraigada que dice que es nuestro mundo, nosotros somos los dueños, y si alguien interfiere con nuestro derecho de hacer lo que queramos, es su culpa. Y cuando China no lo acepta, China es considerado una amenaza. No siguen ordenes y ejercen su propia soberanía y esto no se puede tolerar. Y si volvemos a Irán, es la misma cosa.

El lunes, el Wall Street Journal anunció que EE.UU. está acelerando sus planes para un envío enorme de armas a Arabia Saudita. Helicópteros, aviones F-15, etcétera, diseñado cuidadosamente para que Israel consiga las armas avanzadas y Arabia Saudita consiga las armas de inferiores. Sin embargo, es enorme. Tal vez la venta de armas más grande en la historia. Supuestamente es para defenderse contra Irán. ¿Pero que es exactamente la amenaza iraní? Es interesante. Siempre se habla de esto.

Es considerado por los analistas de la política al exterior de EE.UU. y por el Gobierno estadounidense de ser un problema más grande para el orden mundial. De hecho, se ha llamado el año de Irán porque es un problema tan grande. ¿Así que, cual es la amenaza? De hecho, tenemos una respuesta definitiva a esto.

Desgraciadamente los medios no la cubrirán. Pero está. Cada año, el Pentágono y los Servicios de Inteligencia en EE.UU. entrega informes al Congreso analizando la situación global de seguridad.

Acaban de hacerlo en abril pasado. Hay una sección sobre Irán. Lo que dicen es muy interesante y por eso los medios no lo cubren. Dicen que Irán tiene gastos militares muy bajos, incluso en comparación con otros países en la región. Así que no está claro por que Arabia Saudita necesita helicópteros y F-15. Irán no tiene prácticamente ninguna capacidad de despliegue fuerzas al extranjero. Su doctrina militar es puramente defensiva diseñada para postergar una invasión de Irán por suficiente tiempo para permitir la diplomacia.

Los informes afirman también si Irán está desarrollando una capacidad nuclear, que no quiere decir una arma nuclear necesariamente, sería parte de la estrategia de una fuerza disuasoria. Necesitan una fuerza disuasoria lo cual no es sorprendente porque hay dos países en sus fronteras ocupados por una superpotencia hostil, Israel y Pakistán tienen armas nucleares. Así que están en una situación de peligro. Así que, se supone que esto sería parte de su estrategia de una fuerza disuasoria, si lo están haciendo. ¿Así que, cual es la amenaza? Los informes explican la amenaza. La amenaza es que están ejerciendo su soberanía. Están intentando a extender su influencia en los países vecinos, en Afganistán y Irak. Y esto no se puede tolerar porque nosotros somos los dueños de esos países. Si nosotros invadimos a estos países, está bien. Pero si ellos intentan a influenciarlos, se llama la desestabilización. Imponemos la estabilidad. Es una terminología común. Es tan común que un editor de una publicación de relaciones internacionales una vez escribió sobre el golpe de estado en Chile contra Allende que desgraciadamente tuvimos que desestabilizar a Chile para establecer la estabilidad. Y no se estaba contradiciendo porque tuvimos que desestabilizar al echar al gobierno e imponer una dictadura y el resultado es la estabilidad porque el nuevo gobierno sigue ordenes. Es su visión del mundo. Cada artículo del periódico que lees, cada publicación académica sobre las relaciones internacionales, se dan por sentado esta perspectiva. Y es una perspectiva natural si crees que eres dueño del mundo. Y si ves los documentos internos de EE.UU. tiene sus orígenes desde hace muchos tiempo a la segunda guerra mundial cuando los asesores de Roosevelt se dieron cuenta de que EE.UU. iba a salir de la guerra como un poder mundial dominante reemplazando a Gran Bretaña. Y establecieron directrices que son explícitos y nunca son discutidos porque son demasiados explícitos. Dicen que EE.UU. debe controlar un área vasto, por lo menos el hemisferio occidental, el anterior imperio británico, que incluye el medio oriente, el extremo oriente, y tal vez más, y dentro de esa área, ningún país puede ejercer su soberanía si interfiere con los planes de EE.UU., EE.UU. debe tener poder absoluto.

Profesor Chomsky ¿El imperio de Estados Unidos se está acabando?

Ahora estamos en un momento dramático porque EE.UU. está perdiendo el control en todas partes. El Medio Oriente es el lugar más importante. Pero China es otro caso, y también lo es el hemisferio occidental.

Siempre se ha dado por sentado de que el llamado patio trasero estaría bajo control. Si te fijas en los documentos internos durante los años de (Richard) Nixon, cuando estaban planificando el derrocamiento del Gobierno de (Salvador) Allende (ex presidente chileno derrocado por el dictador Augusto Pinochet), dijeron directamente si no podían controlar a América Latina, como iban a controlar el resto del mundo.

Ya no pueden controlar a América Latina. De hecho, paso por paso, América Latina, por primera vez, está acercándose a la independencia y la integración. No hubo mucha cobertura, pero en febrero pasado, cuando formaron la nueva organización que excluye a EE.UU. y Canadá, es una cachetada.

Por ahora, sólo es formal. Pero si llega a ser operativo, elimina la OEA (Organización de Estados Americanos), que es dirigido por EE.UU. Es como si dijeran a EE.UU. que se retire de nuestros asuntos. Y hay otros pasos que se están tomando. Por ejemplo, China ha superado a EE.UU. como importador de Brasil y probablemente lo superará como socio comercial. Es una noticia grande.

Profesor Chomsky en el caso de Honduras, el golpe de Estado del año pasado ¿Este no fue un golpe duro para la Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América (ALBA) y una gran victoria para Estados Unidos?

Sur América ha avanzado hacia la independencia y la integración. UNASUR (Unión de Naciones Suramericanas), por ejemplo, no es una organización sólo escrita en papel. No hace mucho, pero sí objetó a las bases estadounidenses en Colombia. Apoyó a (presidente boliviano, Evo) Morales cuando estaba bajo ataque de la vieja élite en las provincias del este.

El Banco del Sur podría llegar a tener importancia y Mercosur (Mercado Común del Sur) se está formando. Así que Sur América ha estado saliendo del control de EE.UU., lo cual ha sido muy significativo. Pero Centroamérica ha estado bajo control hasta ahora. Fue devastado por las guerras terroristas de (Ronald) Reagan, incluyendo a Honduras, y apenas está emergiendo de esto. Pero había estado disciplinado por EE.UU.

Nicaragua ha sido un poco diferente, pero tampoco le ha molestado mucho a EE.UU. Honduras es serio. Y una razón es la base aérea de Palmerola. Es la única base militar importante que EE.UU. tiene en esa región. Fue la base principal para atacar a Nicaragua durante la guerra de las Contra. Y EE.UU. quiere mantenerlo. Y como has dicho, Honduras es la república bananera tradicional. Si no podemos mantenerlo, estamos en problemas serios.

Así que, Obama apoyó al golpe de Estado taimadamente. En las palabras, estábamos en contra, pero con las acciones, mostraron que lo apoyábamos. Y lograron hacerlo. Fue un golpe de Estado militar exitoso. Pero si haces una comparación con el pasado, la forma por la cual se llevó a cabo explica mucho.

En años pasados, si EE.UU. quería apoyar un golpe de Estado militar, simplemente diría a las Fuerzas Armadas que echaran al Gobierno, y lo hizo por sí mismo. Esta vez, se vieron obligados de hacerlo en una forma taimada e indirecta que podría llegar a ser aprobado en Europa.

Europa es tan obediente a EE.UU. Europa podía decir que no le gustaba, pero se podía decir que se mantenía dentro de la ley, lo cual no es verdad por supuesto. Pero no pudieron hacer algo así en el resto del mundo y no lo pudieron hacer como lo hacían en el pasado.

Son señales de la debilidad creciente de EE.UU. de imponer lo que llaman la estabilidad en el hemisferio. Si te fijas en esta década, ha habido tres intentos de golpe de Estado. El primero en Venezuela, apoyado abiertamente por EE.UU., fue revertido. El segundo, en Haití, EE.UU. logró llevarlo a cabo. EE.UU. Francia y Canadá de hecho se llevaron a cabo un golpe militar en Haití. Secuestraron al presidente y lo enviaron a África central y proscribió su partido, que ganaría cualquier elección. Fue un golpe de Estado militar verdadero. Haití es un Estado débil así que pudieron hacerlo. Y el tercero fue Honduras.

Son tres en una década. Pero no tiene nada que ver con la época cuando EE.UU. pudo derrocar a gobiernos a su antojo.

Nada que ver, por ejemplo, con John F. Kennedy, quien pudo organizar un golpe de Estado militar en Brasil, que sucedió justo después de su asesinato, pero fue organizado por los Kennedy, y Brasil es un país grande, no es un lugar pequeño, y no fue un problema grande. Instalaron uno de los primeros países asesinos de seguridad nacional que después se extendieron como una plaga por todo el continente.

Estos días se han acabado. Y está causando mucha preocupación entre los formadores de la política al exterior de EE.UU. Incluso un país tan poderoso como EE.UU. ya no puede mantener el tipo de dominación mundial que fue diseñada después de la segunda guerra mundial e implementada a gran medida.

Profesor Chomsky usted escribió un libro muy importante hace 20 años sobre la fabricación de consenso hecho por grandes medios comerciales ¿La capacidad de estas empresas de controlar el pensamiento de las personas ha cambiado en esta época?

Tomamos los ejemplos de Telesur, RT, Press TV o Al Jazeera, que es lo más grande. Veamos un ejemplo real, como la invasión israelí de Gaza, lo cual fue una invasión israelí y EE.UU. de Gaza porque EE.UU. participó plenamente. Fue posible conseguir cobertura en vivo 24 horas de Gaza de Al Jazeera. Y había dos pueblos en EE.UU. donde se podía ver. Uno está en Michigan (centro-norte) donde hay una población árabe grande y el otro es un pueblo pequeño en el norte de Nueva Hampshire.

En el resto del mundo, pudo ver cobertura 24 horas del evento más importante de ese período de tiempo. En EE.UU., no fue prohibido. Si por si acaso estabas en esos pueblos, lo podías ver en la televisión por cable. Si estabas suficientemente inteligente para encontrarlo por Internet, lo podías encontrar por Internet. Pero en cuanto al impacto sobre la población tenían más éxito los que vivían en la Unión Soviética. Había mucho más gente escuchando a la BBC en la Unión Soviética, escuchando a fuentes en el extranjero.

Grandes cantidades estaban consiguiendo sus noticias de la BBC y la Voz de América. Sabemos esto de estudios que se han hecho. Aquí, esta voz alternativa está, y sabes que buscas y haces un esfuerzo, puedes encontrarlo. Esto es bueno, pero sólo algunos se aprovechan.

El Internet tiene mucho valor si sabes lo que estás haciendo. Pero para la mayoría de la población, es como si tú quisieras ser biólogo y yo dijera que vayas a la biblioteca de Harvard y leas todas las revistas sobre la biología. No vas a aprender nada. Están allí. Pero tienes que saber que estás buscando. Y las personas en EE.UU. no saben porque ha habido una campaña sumamente exitosa especialmente en los últimos 20 años de atomizando a la gente, y de subordinarlos.

Profesor Chomsky el cambio climático, la posibilidad de una guerra nuclear, la crisis alimentaria, los desastres naturales, en este sentido el mundo es aterrador ¿Usted tiene esperanza?

Lo más llamativo es que casi no hay una forma de abordar al cambio climático con las instituciones ya existentes. EE.UU. realmente no tiene un sistema de mercados, ningún país podría sobrevivir con un sistema de mercados. Pero tiene un sistema de mercados parcial. Y al grado que funciona un sistema de mercados, te has perdido. Si eres ejecutivo de una empresa, estás obligado por la ley de maximizar las ganancias del corto plazo y de ignorar las externalidades, por ejemplo, el destino de la especie humano.

No lo haces porque eres una mala persona, tal vez te importa el destino de la especie. Pero no te puede importar en tus negocios. Si decides ser una persona decente, estás afuera, y se incorpora a otra persona que va a hacer lo que se requiere institucionalmente. El efecto en EE.UU. es que hay campañas de propaganda importantes dirigidos por el mundo de negocios que intentan convencer a la gente que se olvide. O que no está pasando, o que los humanos no tienen que ver, o lo que sea. Es una sentencia de muerte.

Y las mismas personas que se está llevando a cabo estas campañas, lo saben bien. Saben igual que yo, tú y otros que es muy serio. Pero están atrapados. Están en esta estructura institucional y no pueden salir. Y esto es serio. Si ves al mundo, hay dos trayectorias. Hay la trayectoria que está siendo perseguido, lentamente, entrecortado, en América Latina hacia más independencia, hacia los problemas internos horrendos de la pobreza masiva, y el sufrimiento y la desigualdad. Hay pasos tímidos hacia esto. Es una trayectoria positiva. Hay otra trayectoria que conduce a la destrucción. El cambio climático es un caso. La guerra nuclear es otro. Y hay otros. La pregunta es cual trayectoria va a terminar dominando. No tiene sentido especular.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O saber ancestral


Uma bela matéria que saiu na Carta Capital hoje e que nos faz refletir sobre as nossas bibliotecas incendiadas diariamente, jogadas no esquecimento dos asilos ou rechaçadas do nosso quotidiano sob o argumento de serem "um atraso" para a modernidade, que tem que ser sempre rápida e eficiente. A lógica é: se eles não podem correr atrás, então que fiquem no passado.
Leia e reflita!

O saber ancestral dos indígenas
Rota Inca9 de setembro de 2010 às 9:20h
O respeito e admiração pelos idosos é indissociável da cultura indígena sul-americana

Logo no primeiro dia da expedição Ruta Inka 2010, na Bolívia, estivemos alojados no centro comunitário da cidade de Tiahuanaco, que guarda as ruínas e sabedoria de um dos mais avançados povos ameríndios. Ali tive os primeiros contatos e algumas poucas conversas com os reservados aymaras, que trajavam sua bela vestimenta típica. Um dos líderes locais, Eusebio Mamani Choque, nos falava do resgate dos valores tradicionais que vem sendo feito desde a chegada de Evo Morales à presidência do país. Explicava as unidades organizativas indígenas -ayllu, marka e suyo- que estão sendo resgatadas pelos povos e reconhecidas pelo Estado. Os ayllus são comunidades pequenas que mantém laços familiares; marka é a federação que reúne ayllus; o conjunto de markas vai formar um suyo.

No Perú, passamos por Acomayo, um povoado esquecido no departamento de Cuzco, que embora contenha em seu entorno uma magnífica fortaleza inca (o Waqra Pukara) não desfruta das benesses do turismo que brotam em Machu Picchu, não muito longe dali. Creio que só pude suportar a longuíssima caminha até a fortaleza graças ao mais incrível e delicioso café-da-manhã da minha vida. A paisagem parecia contraditória com tanta fartura: montanhas bastante secas, em altitude de mais de 2 mil metros e pouca vegetação. Mas a culinária andina abusa da criatividade e do conhecimento adquirido em milênios para criar o diverso a partir do pouco disponível. Em um espanhol com um notável sotaque de quéchua, um senhor me explicava sobre o chuño (pronuncia-se “tchunho”), batata desidratada que pode durar por anos, geralmente estocada para comer no período do rigoroso inverno andino, quando há muita escassez. Nesse banquete, havia até inseto frito- há que ressaltar: uma delícia!

Não poderia esquecer do encontro com os índio chibuleos no Equador. Ali me cativou definitivamente a sabedoria indígena. Tivemos palestras sobre temas diversos relacionados à cultura e conhecimento tradicionais com sábios locais. Foi incrível conhecer seu Nazário Caluña (foto), homem com mais de 70 anos de idade, e um dos fundadores do movimento indígena equatoriano. Grande lutador, líder comunitário e nacional, intelectual, pesquisador e historiador de seu povo, que viajou diversos países para levar a cultura e luta dos povos nativos. Achei curioso que embora ele levasse nome ocidental, seu filho houvesse sido batizado com nome indígena. Justo ele, o primeiro da família a aprender a ler e escrever, que pôde ganhar o mundo mas não se esquecer de seu passado.

Seu Nazário me contava que quando pequeno sempre ouvia os indígenas sendo chamados de muitos nomes ruins na cidade e que a partir daí despertou sua curiosidade e quis entender porquê os tratavam assim. Muitos anos depois, tal curiosidade iria resultar no livro Os Chibuleos, no qual ele analisa diversos aspectos culturais da sua comunidade. Em sua fala atenciosa e lenta, de sua voz já carcomida pela idade avançada, fluía uma sabedoria simples e genuína, valorizando as tradições e se distanciando da arrogância de muitos intelectuais e políticos com que estamos acostumados.

Ainda no Equador, não só em Chibuleo, mas também em Cuenca e Cañar, pudemos sentir profundamente a espiritualidade indígena nas cerimônias oferecidas pelos taitas- “Não me chamem de xamã, pois esse é um nome dado pelos ocidentais” dizia um deles. Fiquei realmente impressionado como era possível olhar o mundo de uma outra perspectiva, onde os laços comunitários e o amor à natureza vêm em primeiro plano. Livrando-se dos preconceitos e etnocentrismo é possível abrir a cabeça e valorizar outros tipos de conhecimento, ao invés de ficar restrito ao pensamento ainda eurocêntrico ensinado nas escolas e universidades. Sem querer desprezar o conhecimento acadêmico ou as contribuições da cultura européia mas, afinal, não somo frutos justamente da misturas entre as culturas indígenas que sempre estiveram aqui, dos povos africanos violentamente despejados em nossas terras, dos imigrantes europeus, orientais e árabes?

Talvez um grande equívoco seja querer medir com as réguas da modernidade conhecimentos que se sustentaram por milhares de anos. Nas últimas décadas intensifica-se a visão dos mais velhos como ultrapassados, inúteis ou improdutivos, portadores de valores antiquados, mão-de-obra desatualizada diante das novas tecnologias ou um peso com que as famílias e governos (saúde, previdência) têm que arcar numa sociedade onde a expectativa de vida não para de crescer. É uma idéia tão moderna quanto contrária ao que foi construído em grande parte das culturas mais antigas do planeta, que geralmente associam longevidade com sabedoria.

A valorização dos saberes tradicionais e não só o respeito mas também a admiração pelos idosos é indissociável da cultura ancestral sul-americana, está presente na fala e na atitude de crianças, jovens e adultos. Não há exatamente essa separação explícita entre passado e presente, os ancestrais falecidos são consultados nas cerimônias espirituais, são parte da construção e da identidade de cada índio e a razão de ainda estarem vivos como povos e culturas.

Conversar com os mais velhos era a melhor forma de aprender em sociedades que não conheciam a escrita e muito menos outros tipos de tecnologia. Um jovem indígena colombiano sintetizaria: “Os anciões são como bibliotecas ambulantes. Se morrem, morre todo o conhecimento que guardam. E se nós jovens não buscamos e aprendemos com os mais velhos esse conhecimento se perde, é como queimar uma biblioteca inteira”. E nós, quantas bibliotecas não estaremos queimando diariamente?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A revolução (não) será televionada. Aqui também.

Acabo de assistir o Jornal do Almoço e fico intrigada com uma coisa: por que será que não saiu informação sobre os casos do Banrisul e do brigadiano que estão acontecendo extamente neste momento, exatamente neste Estado e exatamente nesta Cidade (digo RS, Poa)? Talvez não tenha dado tempo, já que tinham reportagens muito mais essenciais, como o galo vestido de gaúcho no acampamento farroupilha ou o motorista bebâdo que eles flagraram e reclamaram que não tinha policial (por que eles não avisaram a polícia?) ou o incrível caso do casal que vive próximo a uma estrada e que vive da agricultura!!!!
É difícil mesmo ter que escolher prioridades com tantas coisas interessantes acontecendo. Aí eu me lembrei de um documentário feito por dois irlandeses que estavam na Venezuela em 2002... Não sei por que, mas alguma semelhança entre estes casos todos que estamos vivendo hoje, nestas eleições no Brasil, e o da tentativa de golpe na Venezuela no referido ano, deve existir...
Posto aí o documentário que retirei do Google Vídeo. Os comentários também.
Hasta!

Em tempo: aqui, no RS Urgente, uma das notícias que a RBS poderia ter transmitido.

"The revolution will not be televised" (A revolução não será televisionada)

O documentário "The revolution will not be televised" (A revolução não será televisionada), filmado e dirigido pelos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O'Briain, apresenta os acontecimentos do golpe contra o governo do presidente Hugo Chávez, em abril de 2002, na Venezuela. Os dois cineastas estavam na Venezuela realizando, desde setembro de 2001, um documentário sobre o presidente Hugo Chavez e o governo bolivariano quando, surpreendidos pelos momentos de preparação e desencadeamento do golpe, puderam registrar, inclusive no interior do Palácio Miraflores, seus instantes decisivos, respondido e esmagado pela espetacular reação do povo. Vídeo com legendas em português.

domingo, 5 de setembro de 2010

Viva o povo brasileiro!

Acabo de ler este texto do Emir Sader no blog dele na Carta Maior. Tem a ver com o que eu estava escrevendo agora (embaixo)... Muito bom!

Massacrado pelos monopólios da velha mídia, desinformado sobre o país, vitima das mentiras reiteradas da oposição midiática, o povo brasileiro demonstra nestas eleições um grau de consciência política e de maturidade cívica exemplares. Consegue distinguir o essencial do secundário, opta pela prioridade das políticas sociais sobre a absolutização do ajuste fiscal, condena os políticos responsáveis pelos governos desastrosos do passado, opta pelo Estado como indutor do crescimento e da distribuição de renda.

Reconhece em Lula e na Dilma os principais responsáveis pelas mudanças positivas que o pais vive, execra a FHC, a Serra, à Globo e aos seus aliados da velha mídia, não dando bola para seus factóides e deixando-os na solidão do seu golpismo. O povo reconhece os avanços principais que o país teve, assiste os programas da Dilma na TV, comparece aos comícios de Lula e da Dilma, e se reconhece, sabe que tudo o que se mostra e se diz reflete as mudanças de vida que estão vivendo no seu mundo sofrido e até aqui abandonado.

Não deram ouvidos para as infâmias da oposição e sua velha mídia, de preconceitos contra as mulheres – que hoje majoritariamente também preferem Dilma -, contra os lutadores contra a ditadura, contra os movimentos sociais e os militantes políticos, que saem todos engrandecidos com o apoio popular.

Derrotados saem a Globo, a Veja, a FSP (Força Serra Presidente), o Estadão e todos os arautos do golpismo, do velho Brasil, das oligarquias tradicionais, com seus métodos de manipulação da opinião pública e de desprezo e discriminação pelo povo e por tudo o que é popular.

O povo percebe a diferença entre a demagogia opositora, não dá ouvidos a quem pretende ser eqüidistante dos dois campos em luta, relega ao ostracismo os que pretendem que nada mudou no Brasil. O povo não é bobo, encontra em Lula e na Dilma as vertentes do futuro, reconhecem a valorização do Brasil, sentem a auto-estima revigorada, superam o desalento, voltam a acreditar em si mesmos e no país.

Por isso o povo impõe a mais acachapante derrota às elites tradicionais, com sua velha imprensa, seus políticos caducos, sua demagogia superada. Derrota os caciques tradicionais que os enganaram durante tanto tempo, mandam FHC para o exílio e Serra para a aposentadoria, os tucanos para o museu da história.

“Esse povo de quem fui escravo, não será mais escravo de ninguém”, pregava e previa o Getúlio na sua Carta Testamento. Quem não reconhece esse povo, que começa a construir sua soberania, sua emancipação, seu destino próprio, suas formas solidárias de vida, está de costas para o país e merece ser derrotado fragorosamente nas eleições deste ano.

Sobre o Brasil e as eleições

Hoje li duas matérias falando sobre as eleições. Uma do IHU (Instituto Humanitas Unissinos) que reproduzia texto falando sobre o posicionamento do jornal Brasil de Fato em relação aos candidatos e outra do Vermelho, falando sobre uma eleitora da Dilma.
As duas muito boas e, para mim, de certa forma, complementares. Lendo as duas, fica mais fácil de entender, mas vou expor aqui alguns dos meus argumentos:
O Brasil de Fato reproduz uma idéia fiel aos princípios da esquerda mais "radical", que é mais crítica e, talvez por isso, mais distante (pois assim deve se manter, para poder ser crítica) do poder. Ele analisa a "era Lula" como um período de desmobilização dos movimentos sociais, não em função do Lula, mas de um contexto histórico mais amplo:

"A classe trabalhadora brasileira vivencia uma longa etapa de refluxo do movimento de massas, que vem desde a derrota político-ideológica para o neoliberalismo e a vitória dos governos Collor-FHC. Então, há muita confusão ideológica e divisionismo, pela derrota política sofrida pela esquerda e pelo abandono das ideias socialistas por muitos setores que levam a desvios oportunistas entre candidatos de todo tipo.
Além disso, há uma desarticulação política das organizações de massa, que reduziram seus programas."

Nesse sentido, tem-se o fato de que os movimentos sociais "não conseguiram ainda influenciar e determinar o debate entre os candidatos". O governo Lula, assim, atingiu os trabalhadores que estão distantes desse processo mais crítico e politizado e, portanto, são mais "fáceis" de agradar. A indiscutível melhora da condição de vida desta parcela da população gera um apoio massivo à política de Lula. Estes argumentos estão embasados nas idéias do cientista político André Singer, que deu entrevista para o jornal. Ele afirma que "é a letargia das massas que apoiam o melhorismo. E são a maioria da população."
É neste ponto que entra o segundo texto a que me referi. Nesse texto, uma mulher de 47 anos explica sua preferência por Dilma a um jornalista do Jornal da Tarde, de São Paulo. Aqui a entrevista:

JT – A senhora acha que a Dilma tem experiência política? A candidata não depende muito do Lula?
Neusa- Ela é como a gente. Acho que ela pode aprender como ser uma boa presidente. Ela vai se virar bem sem o Lula.

JT – E o passado dela? Ela participou da luta armada…
Ah, meu filho, isso não interessa muito, não. Além do mais, faz tanto tempo. E acho também que as pessoas mudam.

JT – A história do Mensalão do PT não incomoda a senhora? E ela ter o apoio do Zé Dirceu, do Sarney, do Collor…
Acho que todos os políticos são a mesma coisa (ri). Quem fez coisa errada tem que pagar e pronto. Agora, vai dizer que só tem gente boa do lado do Serra?

JT – E essa história da quebra de sigilo na Receita Federal?
Isso aí, não sei. Mas imposto é segredo? Achei que não era, que todo mundo sabia.
Em outros trechos que estão no site, ela também afirma que "não identifica Lula ou Dilma como sendo do PT, mas políticos em que ela confia. Expressões como “gente como a gente” e “cara boa” fazem parte do discurso dela."
Por que Neusa não vota no Serra? Ela diz que “não vai com a cara” e não tem nenhuma empatia com ele. “Não acredito naquilo que ele fala”. (trecho da matéria)

É claro que as perguntas "nada tendenciosas" do Jornal queriam outro tipo de resposta, mas o que se pode ler é fantástico! E acrescenta um outro elemento à análise, além dos apontados pelo Brasil de Fato: a identificação. Não enquanto mulher, mas enquanto classe.
Mesmo que os movimentos sociais mais críticos estejam, de certa forma, desmobilizados e que o governo represente uma ampla gama de interesses, muitas vezes antagônicos, é a primeira vez que pessoas vulgarmente chamadas de "povo" se identificam com seus representantes. E este fenômeno, a meu ver, é muito positivo. Todos os nossos ex-presidentes, inclusive Getúlio Vargas, tinham uma identificação e uma ligação muito mais forte com a também vulgarmente chamada "elite", mesmo que o Jânio Quadros se esforçasse para parecer "povão". Não é, ou pelo menos para mim não parece ser, o mesmo sentimento que já houve nos governos populistas de paternalismo e idolatria. É algo como "estar lá de fato", pois "tem alguém como eu lá". E eu gosto disso porque os brasileiros sempre tiveram muita vergonha de si mesmos. A "elite" tem vergonha do Brasil, sempre tentou imitar os "civilizados" (claro que escrevo isso de forma irônica). Os mais pobres sempre tiveram vergonha de si mesmos, sempre tentaram imitar a "elite". E a "elite", bondosa, enche eles de novelas, para que possam copiar sem ser iguais. Mas raramente se viu uma vontade de fazer melhorar o que é seu, de um jeito só seu, sem espelhos, mesmo que com modelos totalmente passíveis de adaptação.
A visão crítica dos movimentos sociais está distante do centro do debate? Sim. Mas creio que estamos vivendo um momento "ponte" onde, depois de 500 anos, talvez possamos construir de forma coletiva e solidária (e não acho que isso seja uma utopia), mesmo com toda a mídia golpista trabalhando para os poderosos de sempre, um caminho alternativo, que mistura idéias de um capitalismo liberal com um capitalismo mais social e algumas pitadas de socialismo. Com certeza não deve ser o ideal e muito ainda vai ter que ser feito, mas já foi visto (e o Brasil é o exemplo disso) que as coisas construídas de cima para baixo, sem uma base forte, não se sustentam.
O capitalismo é desigual e injusto? Claro que sim, e jamais deixará de ser. Mas o que discute hoje são alternativas VIÁVEIS e que não excluam totalmente nenhum grupo, mas parcelas deles, que por motivos óbvios, não se encaixam no modelo de nação realmente soberana e definitivamente muito menos injusta que queremos.
Bem, um monte de outros argumentos ficaram de fora e talvez pulem para dentro mais adiante, mas por agora era isso.
Hasta!

sábado, 4 de setembro de 2010

500 Anos de Solidão

Por Eduardo Galeano, na Revista Fórum.

"A América Latina é uma região do planeta dentro da qual existem energias de mudança muito lindas e também energias do sistema colonial que vêm se perpetuando já há mais de cinco séculos e que são muito poderosas. Eles têm um poder econômico e cultural imenso e boa parte do poder político. São essas as forças que estão nos treinando desde sempre para a certeza de nossa impotência. Para a certeza de que a realidade é intocável, de que o que é, é porque foi e continuará sendo. De que amanhã é outro nome de hoje. Isso é um fatalismo herdado e tem muito tempo de vida: cinco séculos. Não é fácil lutar contra isso. Vamos inventar a vida, vamos imaginar o futuro. Vamos cometer a loucura de acreditar que essa terra pode ser outra. De que essa região nossa não está condenada pelos deuses nem pelos diabos à pena perpétua de solidão e desgraça. Mas isso não é fácil."

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O mundo segundo a Monsanto

Excelente documentário que investiga e analisa as "verdades" da Monsanto, uma das maiores empresas do mundo que atualmente fabrica produtos para a agricultura, como transgênicos e agrotóxicos.
Segundo a wikipedia, "a política de empresa é:
Preencher as crescentes necessidades de alimentos e fibras
Preservar os recursos naturais
Melhorar o meio ambiente
Foi eleita pelo Great Place to Work Institute (GPTW) como a décima sexta melhor empresa para se trabalhar no Brasil."
Só para constar, foram eles os criadores do Agente Laranja, o desfolhante utilizado na Guerra do Vietnã pelos EUA e que, por "descuido e pressa", carregava imensas doses de elementos cancerígenos, contaminando inclusive soldados estadunidenses.
Aqui no Olho da História tem um trabalho muito bacana de um sociólogo sobre o documentário e sobre a referida empresa.
Bom vídeo!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Como calar...

ATENÇÃO: Esta reportagem merece a maior divulgação possível!

... e intimidar a imprensa

Por Luiz Cláudio Cunha em 31/8/2010 - Observatório da Imprensa


"Quando o mal é mais audacioso, o bem precisa ser mais corajoso." (Pierre Chesnelong, 1820-1894, político francês

Agosto, mês de cachorro louco, marcou o décimo ano da mais longa e infame ação na Justiça brasileira contra a liberdade de expressão.

É movida pela família do ex-governador Germano Rigotto, 60 anos, agora candidato ao Senado pelo PMDB do Rio Grande do Sul e supostamente alheio ao processo aberto em 2001 por sua mãe, dona Julieta, hoje com 89 anos. A família atacou em duas frentes, indignada com uma reportagem de quatro páginas, publicada em maio daquele ano em um pequeno mensário (tiragem de 5 mil exemplares) de Porto Alegre, o JÁ, que jogava luzes sobre a maior fraude da história gaúcha e repercutia o envolvimento de Lindomar Rigotto, filho de Julieta e irmão de Germano.

Uma ação, cível, cobrava indenização da editora por dano moral. A outra, por injúria, calúnia e difamação, punia o editor do JÁ e autor da reportagem, Elmar Bones da Costa, hoje com 66 anos. O jornalista foi absolvido em todas as instâncias, apesar dos recursos da família Rigotto, e o processo pelo Código Penal foi arquivado. Mas, em 2003, Bones acabou sendo condenado na área cível ao pagamento de uma indenização de R$ 17 mil. Em agosto de 2005 a Justiça determinou a penhora dos bens da empresa. O JÁ ofereceu o seu acervo de livros, cerca de 15 mil exemplares, mas o juiz não aceitou. Em agosto de 2009, sempre agosto, quando a pena ascendera a quase R$ 55 mil, a Justiça nomeou um perito para bloquear 20% da receita bruta de um jornal comunitário quase moribundo, sem anúncios e reduzido a uma redação virtual que um dia teve 22 jornalistas e hoje se resume a dois – Bones e Patrícia Marini, sua companheira. Cinco meses depois, o perito foi embora com os bolsos vazios, penalizado diante da flagrante indigência financeira da editora.

Até que, na semana passada, no maldito agosto de 2010, a família de Germano Rigotto saboreou mais um giro no inacreditável garrote judicial que asfixia o jornal e seu editor desde o início do Século 21: o juiz Roberto Carvalho Fraga, da 15ª Vara Cível de Porto Alegre, autorizou o bloqueio online das contas bancárias pessoais de Elmar Bones e seu sócio minoritário, o também jornalista Kenny Braga. Assim, depois do cerco judicial que está matando a editora, a família Rigotto assume o risco deliberado de submeter dois dos jornalistas mais conhecidos do Rio Grande ao vexame da inanição, privados dos recursos essenciais à subsistência de qualquer ser humano.

O personagem de Scorsese

Afinal, qual o odioso crime praticado pelo JÁ e por Elmar Bones que possa justificar tanta ira, tanta vindita, ao longo de tanto tempo, pelo bilioso clã Rigotto? O pecado do jornal e seu editor só pode ter sido o jornalismo de primeira qualidade, ousado e corajoso, que lhe conferiu em 2001 os prêmios Esso Regional e ARI (Associação Riograndense de Imprensa), os principais da categoria no sul do país, pela reportagem "Caso Rigotto – Um golpe de US$ 65 milhões e duas mortes não esclarecidas".

A primeira morte era a de uma garota de programa, Andréa Viviane Catarina, 24 anos, que despencou nua do 14º andar de um prédio na Rua Duque de Caxias, no centro da capital gaúcha, no fim da tarde de 29 de setembro de 1998. O dono do apartamento, Lindomar Rigotto, estava lá na hora da queda. Ele contou à polícia que a garota tinha bebido uísque e ingerido cocaína. Nenhum vestígio de álcool ou droga foi confirmado nos exames de sangue coletados pela criminalística. O laudo da necropsia diz que a vítima mostrava três lesões – duas nas costas, uma no rosto – que não tinham relação com a queda. Ela estava ferida antes de cair, o que indicava que houve luta no apartamento. Um teste do Instituto de Criminalística indicou que o corpo de Andréa recebeu um impulso no início da queda.

No relatório que fez após ouvir Rigotto, o delegado Cláudio Barbedo, um dos mais experientes da polícia gaúcha, achou relevante anotar: "[Lindomar] depôs sorrindo, senhor de si, falando como se estivesse proferindo uma conferência". Os repórteres que o viram chegar para depor, no dia 12 de novembro, disseram que ele parecia "um personagem de Martin Scorsese", famoso pelos filmes sobre a Máfia: Lindomar usava óculos escuros, terno azul marinho, calça com bainha italiana, camisa azul, gravata colorida e gel nos cabelos compridos. O figurino não impressionou o delegado, que incluiu na denúncia o depoimento de uma testemunha informando que Lindomar era conhecido como "usuário e traficante de cocaína" na noite que ele frequentava – por prazer e ofício – como dono do Ibiza Club, uma rede de quatro casas noturnas que agitavam as madrugadas no litoral do Rio Grande e Santa Catarina. Em dezembro, o delegado Barbedo concluiu o inquérito, denunciando Lindomar Rigotto por homicídio culposo e omissão de socorro.

Lindomar só não sentou no banco dos réus porque teve também uma morte violenta, 142 dias após a de Andréa. Na manhã de 17 de fevereiro, ele fechava o balanço da última noite do Carnaval de 1999, que levou sete mil foliões ao salão do Ibiza da praia de Atlântida, a casa mais badalada do litoral gaúcho. Cinco homens armados irromperam no local e roubaram a féria da noitada. Lindomar saiu em perseguição ao carro dos assaltantes. Emparelhou com eles na praia vizinha, Xangrilá, a três quilômetros do Ibiza. Um assaltante botou a arma para fora e disparou uma única vez. Lindomar morreu a caminho do hospital, com um tiro acima do olho direito. Tinha 47 anos.

O choque de Dilma

A trepidante carreira de Lindomar Rigotto sofrera um forte solavanco dez anos antes, com seu envolvimento na maior fraude da história gaúcha: a licitação manipulada de 11 subestações da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), uma tungada em valores corrigidos de aproximadamente R$ 840 milhões – 21 vezes maiores do que o escândalo do Detran que submeteu a governadora Yeda Crusius a um pedido de impeachment, quase três vezes mais do que os desvios atribuídos ao clã Maluf em São Paulo, quinze vezes maior do que o total contabilizado pelo Supremo Tribunal Federal para denunciar a "quadrilha dos 40" do mensalão do governo Lula.

Afundada em dívidas, a estatal gaúcha de energia tinha dificuldades para captar os US$ 141 milhões necessários para as subestações que gerariam 500 mil quilowatts para 51 pequenas e médias cidades do Rio Grande. Preocupado com a situação pré-falimentar da empresa, o então governador Pedro Simon (PMDB) tinha exigido austeridade total.

Até que, em março de 1987, inventou-se o cargo de "assistente da diretoria financeira" para acomodar Lindomar, irmão do líder do Governo Simon na Assembléia, o deputado caxiense Germano Rigotto. "Era um pleito político da base do PMDB em Caxias do Sul", confessaria depois o secretário de Minas e Energia, Alcides Saldanha. Mais explícito, um assessor de Saldanha reforçou a paternidade ao JÁ: "Houve resistência ao seu nome [Lindomar], mas o irmão [Germano] exigiu".

Com a chegada de Lindomar, as negociações com os dois consórcios das obras, que se arrastavam há meses, foram agilizadas em apenas oito dias. Logo após a assinatura dos contratos, os pagamentos foram antecipados, contrariando as normas estritas baixadas por Simon para evitar curtos-circuitos contábeis na CEEE. Três meses depois, a empresa foi obrigada a um empréstimo de US$ 50 milhões do Banco do Brasil, captado pela agência de Nassau, no paraíso fiscal das Bahamas. Uma apuração da área técnica da CEEE detectou graves problemas: documentos adulterados, folhas numeradas a lápis, licitação sem laudo comprovando a necessidade da obra. A sindicância da estatal propôs a revisão dos contratos, mas nada foi feito. A recomendação chegou ao governo seguinte, o de Alceu Collares (PDT), e à sucessora de Saldanha na pasta das Minas e Energia, uma economista chamada Dilma Rousseff. "Eu nunca tinha visto nada igual", diria ela, chocada com o que leu.

Dilma só não botou o dedo na tomada porque o PDT de Collares precisava dos votos do PMDB de Rigotto para ter maioria na Assembléia. Para evitar o risco de queimaduras, Dilma, às vésperas de deixar a secretaria, em dezembro de 1994, teve o cuidado de mandar aquela papelada de alta voltagem para a Contadoria e Auditoria Geral do Estado (CAGE), que começou a rastrear a CEEE com auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Ministério Público. Dependendo do câmbio, o tamanho da fraude constatada era sempre eletrizante: US$ 65 milhões, segundo o CAGE, ou R$ 78,9 milhões, de acordo com o Ministério Público.

A denúncia energizou a criação de uma CPI na Assembléia, proposta pelo deputado Vieira da Cunha, líder da bancada do PDT em 2008 na Câmara Federal. Vinte e cinco auditores quebraram sigilos bancários e fiscais. Lindomar Rigotto foi apontado em 13 depoimentos como figura central do esquema, acusação reforçada pelo chefe dele na CEEE, o diretor-financeiro Silvino Marcon. A CPI constatou que os vencedores da licitação, gerenciados por Rigotto, apresentavam propostas "em combinação e, talvez, até ao mesmo tempo e pelas mesmas pessoas". O relatório final lembrava: "É forçoso concluir pela existência de conluio entre as empresas interessadas que, se organizando através de consórcios, acertaram a divisão das obras entre si, fraudando dessa forma a licitação". O JÁ foi mais didático: "Apurados os vencedores, constatou-se que o consórcio Sulino venceu todas as subestações do grupo B2 e nenhuma do B1. Em compensação, o Conesul venceu todas as obras do B1 e nenhuma do B1. A diferença entre as propostas dos dois consórcios é de apenas 1,4%".

O aval de Dulce

A quebra do sigilo bancário de Lindomar revelou um crédito em sua conta de R$ 1,17 milhão, de fonte não esclarecida. O relatório final da CPI caiu na mão de um parlamentar do PT, o também caxiense Pepe Vargas, primo de Lindomar e Germano Vargas Rigotto. Apesar do parentesco, o primo Pepe, hoje deputado federal, foi inclemente na sua acusação final: "De tudo o que se apurou, tem-se como comprovada a prática de corrupção passiva e enriquecimento ilícito de Lindomar Vargas Rigotto". Além dele, a CPI indiciou outras 12 pessoas e 11 empresas, botando no mesmo balaio nomes vistosos como Camargo Corrêa, Alstom, Brown Boveri, Coemsa, Sultepa e Lorenzetti. No final de 1996, a Assembléia remeteu as 260 caixas de papelão da CPI ao Ministério Público, de onde nasceu o processo n° 011960058232 da 2ª Vara Cível da Fazenda Pública em Porto Alegre. Os autos somam 30 volumes e 80 anexos e mofam ainda na primeira instância do Judiciário, protegidos por um inacreditável "segredo de justiça". Em fevereiro próximo, o Rio Grande do Sul poderá comemorar os 15 anos de completo sigilo sobre a maior fraude de sua história.

Esta incrível saga de resistência e agonia do JÁ e de Bones provocada pela família Rigotto foi contada, em primeira mão, neste Observatório, em 24 de novembro de 2009 ("O jornal que ousou contar a verdade"). No dia seguinte, uma quarta-feira, Rigotto telefonou de Porto Alegre para reclamar ao autor que assina aquele e este texto.

– Isso ficou muito ruim pra mim, Luiz Cláudio, pois o Observatório é um formador de opinião, muito lido e respeitado. Ficou parecendo que eu estou querendo fechar um jornal. Eu não tenho nada a ver com isso. O processo é coisa da minha mãe. Foi a minha irmã, Dulce, que me disse que a reportagem era muito pesada, irresponsável. Eu nem conheço este jornal, este jornalista...

– Rigotto, a dona Julieta não é candidata a nada. O candidato és tu. A reportagem do JÁ tem implicações políticas que batem em ti, não na tua mãe. E acho muito estranho que, passados oito anos, tu ainda não tiveste a curiosidade de ler a reportagem que tanta aflição provoca na dona Julieta. Se tu estás te baseando na avaliação da Dulce, devo te alertar que ela não entende xongas de jornalismo, Rigotto! Esta matéria do Bones é precisa, calcada em fatos, relatórios, documentos e conclusões da CPI e do Ministério Público que incriminam o teu irmão. Não tem opinião, só informação. O teu processo...

– Não é meu, não é meu... É da minha mãe...

– Isso é o que diz também o Sarney, Rigotto, quando perguntam a ele sobre a censura que cala O Estado de S.Paulo. "Isso é coisa do meu filho, o Fernando"...

– Eu fico muito ofendido com esta comparação! Eu não sou o Sarney, não sou!...

– Lamento, mas estás usando a mesma desculpa do Sarney, Rigotto.

– Luiz Cláudio, como resolver isso tudo com o Bones? A gente pode parcelar a dívida e aí...

– Rigotto, tu não estás entendendo nada. O Bones não quer parcelar, não quer pagar um único centavo. Isso seria uma confissão de culpa, e ele não fez nada errado. Pelo contrário. Produziu uma reportagem impecável, que ganhou os maiores prêmios. Eu assinaria essa matéria, com o maior orgulho. Sai dessa, Rigotto!

Coincidência ou não, um dia depois do telefonema, na quinta-feira, 26, Rigotto convocou uma inesperada coletiva de imprensa em Porto Alegre para anunciar sua retirada como possível candidato ao Palácio Piratini, deixando o espaço livre para o prefeito José Fogaça.

O modelo de Roosevelt

Naquela mesma quarta-feira, 25 de novembro, a emenda ficou pior que o soneto. O advogado dos Rigotto, Elói José Thomas Filho, botou no papel aquela mesma proposta indecente que ouvi do próprio Germano Rigotto, confirmando por escrito ao editor a idéia de parcelar a indenização devida de R$ 55 mil em 100 (cem) módicas prestações. Diante da altiva recusa de Bones, o advogado pareceu incorporar a doutrina do big stick de Theodore Ted Roosevelt (1901-1909), popularmente conhecida como "lei do tacape" e inspirada pela frase favorita do belicoso presidente estadunidense: "Fale com suavidade e tenha na mão um grande porrete". O suave advogado Thomas Filho escreveu então para Bones: "... em nova demonstração de boa-fé, formalizamos nossa intenção em compor amigavelmente o litígio acima, bem como a possibilidade [sic] de nos abstermos de ajuizar novas demandas judiciais...".

Certamente para tranquilizar o filho candidato, o advogado reafirmava na carta a Bones que a ação contra o jornal era movida "unicamente" por dona Julieta, que buscava na justiça o ressarcimento pelo "abalo moral" provocado pela reportagem do JÁ, que misturava "irresponsavelmente três fatos diversos que envolveram a figura do falecido". Ou seja, dona Julieta Rigotto, que entende de jornalismo tanto quanto os filhos Dulce e Germano, não consegue perceber a obviedade linear de uma pauta irresistível para qualquer repórter inteligente: o objetivo relato jornalístico sobre um homem público – Lindomar – morto num assalto pouco antes de ser julgado pelo homicídio culposo de uma prostituta e pouco depois de ser denunciado no relatório de uma CPI, redigido pelo primo deputado, pela prática comprovada de "corrupção passiva e enriquecimento ilícito" na maior fraude já cometida contra os cofres públicos do Rio Grande do Sul. Mas, na lógica simplória da mãe dos Rigotto, uma coisa não tem nada a ver com a outra...

Para garantir o tom "amigável" entre as partes, o advogado de dona Julieta propôs a Bones os termos de uma retratação pública, suave como um porrete, enfatizando três pontos:

1. "Dona Julieta nunca teve a intenção de fechar o jornal";

2. "a ação não é promovida pela família Rigotto, mas apenas por dona Julieta";

3. "retirar o jornal de circulação, para estancar a propagação do dano".

Tudo isso, incluindo o ameno confisco de um jornal das bancas em pleno regime democrático, segundo o tortuoso raciocínio do advogado, serviria para "tutelar a honra e a imagem de seu falecido filho". Neste longo, patético episódio, que intercala demonstrações de coragem e altivez com cenas de pura violência, fina hipocrisia ou corrupção explícita, ficou pelo caminho o contraste de atitudes que elevam ou rebaixam. Diante da primeira ação criminal de dona Julieta na Justiça, o promotor Ubaldo Alexandre Licks Flores ensinou, em novembro de 2002:

"[não houve] qualquer intenção de ofensa à honra do falecido Lindomar Rigotto. Por outro lado, é indiscutível que os três temas [a CEEE e as duas mortes] estavam e ainda estão impregnados de interesse público".

O orgulho de Enedina

Apesar da lucidez do promotor, o caso tonitruante da CEEE não ecoa nos ouvidos surdos da imprensa gaúcha, conhecida no país pela acuidade de profissionais talentosos, criativos, corajosos. Nenhum grande jornal do sul – Zero Hora, Correio do Povo, Jornal do Comércio, O Sul –, nenhum colunista de peso, nenhum editorialista, nenhum blog de prestígio perdeu tempo ou tinta com esse tema, que nem de longe parece um assunto velho, batido ou nostálgico. O que lhe dá notória atualidade não é o ancestral confronto entre a liberdade de expressão e a prepotência envergonhada dos eventuais poderosos de plantão, mas a reaparição de seus principais personagens no turbilhão da corrida eleitoral de 2010.

Germano Rigotto, o líder governista que emplacou o filho de dona Julieta na máquina estatal, é hoje o candidato do maior partido gaúcho ao Senado Federal. A ex-secretária Dilma Rousseff, que ficou estarrecida com o que leu sobre as fraudes de Lindomar Rigotto na CEEE, é apontada pelas pesquisas como a futura presidente do Brasil, numa vitória classificada pelo renomado jornal inglês Financial Times como "retumbante". Tarso Genro, o ex-comandante supremo da Polícia Federal, que executou as maiores operações contra corruptos da máquina pública, lidera a corrida ao governo gaúcho e, certamente, tem os instrumentos para saber hoje o que Dilma sabe desde 1990. O primo Pepe Vargas, que mostrou isenção e coragem no relatório da CPI sobre a maior fraude da história do Rio Grande, é candidato à reeleição, assim como o deputado federal que inventou a CPI, Vieira da Cunha.

É a lógica perversa do interesse eleitoral que explica o desinteresse até dos principais adversários de Rigotto na disputa pelo Senado. O candidato do PMDB está emparedado entre a líder na pesquisa da Datafolha, a jornalista Ana Amélia Lemos (PP) – que subiu de 33% em julho para 44% na semana passada – e o candidato à reeleição pelo PT, senador Paulo Paim – que cresceu de 35% no início do mês para 38% agora. Rigotto caiu de 43% para 42% no espaço de três semanas. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, Ana Amélia bate Rigotto por 47% a 39%. Seus oponentes desprezam o potencial explosivo do "Caso CEEE" porque todos sonham em ganhar o segundo voto dos outros candidatos, o que justifica a calculada misericórdia e o piedoso silêncio que modera a estratégia de adversários historicamente tão diferentes e hostis como são, no Rio Grande do Sul, o PT, o PMDB e o PP.

O que é recato na política se transforma em omissão nas entidades que, ao longo do tempo, marcaram suas vidas na luta pela democracia e pela liberdade de expressão e no repúdio veemente à ditadura e à censura. Siglas notáveis como OAB, ABI, SIP, Fenaj e Abraji brilham pelo silêncio, pela omissão, pelo desinteresse ou pelo trato burocrático do caso JÁ vs. Rigotto, que resume uma questão crucial na vida de todas elas e de todos nós: a livre opinião e o combate à prepotência dos grandes sobre os pequenos, apanágio de toda democracia que se respeita.

A OAB e seus advogados, no Rio Grande ou no Brasil, que impulsionaram a queda de um presidente envolvido em denúncias de corrupção, não se sensibilizam pela sorte de um pequeno jornal e seu bravo editor, punidos por seu desassombrado jornalismo e mortalmente asfixiados pelo cerco econômico surpreendentemente avalizado pela Justiça, que deveria proteger os fracos contra os fortes – e não o contrário.

A inerte Associação Brasileira de Imprensa jamais se pronunciou sobre as agruras de Bones e seu jornal. Só em setembro de 2009, um mês após a denúncia sobre o bloqueio judicial das receitas do JÁ, é que a Fenaj e o Sindicato dos Jornalistas do RS trataram de fazer alguma coisa: uma nota gelada, descartável, manifestando solidariedade à vítima e lamentando a decisão "equivocada" da Justiça. A Associação Riograndense de Imprensa, que em 2001 conferiu à reportagem contestada do JÁ o seu maior prêmio jornalístico, só quebrou o seu constrangedor silêncio ao ser cobrada publicamente por este Observatório, em novembro passado. Todos os membros da brava Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo têm a obrigação de conhecer a biografia de Elmar Bones, que nos anos de chumbo pilotou o CooJornal, um mensário da extinta Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (1976-1983) que virou referência da imprensa nanica que resistia à ditadura.

Bones chegou a ser preso, em 1980, pela publicação de um relatório secreto em que o Exército fazia uma autocrítica sobre as bobagens cometidas na repressão à guerrilha do Araguaia. Algo mais perigoso, na época, do que falar na roubalheira operada pelo filho de dona Julieta na CEEE... No site da Abraji, a entidade emite sua opinião em quatro notas, nos últimos dois anos. Critica o sigilo eterno de documentos públicos, defende o seguro de vida para repórteres em zona de risco, repudia um tapa na cara que uma repórter de TV do Centro-Oeste levou de um vereador e, enfim, faz uma vigorosa, firme, veemente manifestação a favor da liberdade de expressão... no México. Ao pobre JÁ e seu editor, lá no sul do Brasil, nenhuma linha, nada.

A poderosa Sociedade Interamericana de Imprensa, que reúne os maiores veículos das três Américas, patrocina uma influente Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, hoje sob a presidência de um jornal do Texas, o San Antonio Express News. Entre os 26 vice-presidentes regionais, existem dois brasileiros: Sidnei Basile, do Grupo Abril, e Maria Judith de Brito, da Folha de S.Paulo. Envolvidos com os graves problemas da Paulicéia, eles provavelmente não podem atentar para o drama vivido por um pequeno jornal de Porto Alegre. Mas, existem outros 17 membros na Comissão de Liberdade da SIP, e dois deles bem próximos do drama de Bones: os gaúchos Mário Gusmão e Gustavo Ick, do jornal NH, de Novo Hamburgo, cidade a 40 km da capital gaúcha. Nem essa proximidade livra as aflições do JÁ e seu editor do completo desdém da SIP.

Este monumental cone de silêncio e omissão, que atravessa fronteiras e biografias, continua desafiando a sensibilidade e a competência de jornais e jornalistas, que deveriam se perguntar o que existe por trás do amaldiçoado caso da CEEE, que afugenta em vez de atrair a imprensa. A maior fraude da história do Rio Grande, mais do que uma bomba, é uma pauta em aberto, origem talvez da irritação dos Rigotto contra o editor e o jornal que ousaram jogar luz nessa história mal contada. Os volumes empoeirados deste megaescândalo continuam intocados nas estantes da Justiça em Porto Alegre, protegido por um sigilo inexplicável que só pode ser útil a quem mente e a quem rouba, não a quem luta pela verdade e a quem é ético na política, como fazem os bons repórteres e como devem ser os bons políticos.

O bom jornalismo não é aquele que produz boas respostas, mas aquele que faz as boas perguntas – e as perguntas são ainda melhores quando incomodam, quando importunam, quando constrangem, quando afligem os consolados e quando consolam os aflitos.

A emoção é a última fronteira de quem perde os limites da razão. Elmar Bones tinha ganhado todas as instâncias do processo criminal, quando um juiz do Tribunal de Justiça, na falta de melhores argumentos, preferiu se assentar nos autos impalpáveis do sentimento para decidir em favor da mãe de Germano Rigotto:

"Não há como afastar a responsabilidade da ré pelas matérias veiculadas, que atingiram negativamente a memória do falecido, o que certamente causou tristeza, angústia e sofrimento à mãe do mesmo (...)".

Dona Julieta Rigotto, viva e forte aos 89 anos, ainda sofre com a honra e a imagem maculadas de seu falecido filho, Lindomar.

Dona Enedina Bones da Costa tinha 79 anos quando morreu, em 2001, poupada assim da tristeza, angústia e sofrimento que sentiria ao ver o drama vivido agora por seu filho, Elmar. Mas ela teria, com certeza, um enorme, um insuperável orgulho pelo filho honrado e corajoso que trouxe ao mundo e ao jornalismo.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Assassinato colateral

Já tinha postado aqui algumas coisas sobre a guerra. Este é "só" mais um dos absurdos cometidos pelos defensores da moral e da liberdade. As vezes, fico me perguntando: será que um dia vamos conseguir viver de forma pacífica e harmônica? Ou vamos nos destruir antes de qualquer coisa?
Retirado do Passapalavra.

No início de abril desse ano foi divulgado pela internet um impactante vídeo sobre a Guerra do Iraque. Em 2007, durante uma ação em Nova Bagdad, Iraque, dois helicópteros Apache do exército dos EUA confundiram jornalistas da Reuters e seus respectivos equipamentos (câmeras fotográficas) com “insurgentes” portando AK-47 e RPG (lança granadas). Em poucos minutos o agrupamento de pessoas foi brutalmente assassinado pelo ataque dos helicópteros. Uma dezena de pessoas foi assassinada sem mostrar qualquer tipo de ameaça. Duas crianças foram gravemente feridas no ataque. O caso ganhou grande repercussão e sua autenticidade foi confirmada por um militar norte-americano anônimo.
O responsável pelo vazamento [revelação] do vídeo foi o site Wikileaks. A proposta do site é tornar os governos transparentes através do vazamento público de arquivos sigilosos e confidenciais. O nome é uma composição de Wiki - uma referência à enciclopédia aberta Wikipédia - e leaks, do inglês, vazar [revelar]. Qualquer pessoa pode enviar um arquivo para o Wikileaks. Através de um forte sistema de anonimato e criptografia, a fonte é preservada. Entre os vazamentos notáveis podem-se citar os documentos referentes a base de Guantânamo, dados sobre a guerra do Iraque e do Afeganistão, a lista de filiados do partido nacionalista britânico e até mesmo um documento de 2008, do Pentágono, descrevendo métodos e estratégias para marginalizar o site e perseguir juridicamente todas as possíveis fontes dos vazamentos, pois, na época, o Wikileaks estava tornando públicas as violações de direitos humanos durante a invasão de Faluja, Iraque.
O nome do vídeo Collateral Murder (em português, “Assassinato Colateral”) é uma derivação do termo militar Collateral Damage (“Dano Colateral”) que é empregado quando há danos não intencionais ou acidentais. Segundo uma revisão interna do exército, o ataque dos helicópteros combateu insurgentes e como dano colateral dois jornalistas da Reuters foram mortos. Abaixo é possível assistir ao vídeo. Traduzido por um colaborador na internet, a revisão e sincronização foi feita por nós. Passa Palavra

Assassinato Colateral from Passa Palavra on Vimeo.