quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sobre a liberdade de expressão

Este trecho que segue saiu da Carta Maior e fala sobre a tão propalada liberdade de imprensa. O assunto é transmitido de forma tão "batida" pelos meios de comunicação que nos dá a impressão (claro que isso é totalmente proposital) de que este termo se encerra em si mesmo e de que não há nada para discutirmos a respeito. É lógico que com um pouquinho de conhecimento já é possivel questionar algumas coisas... É como se ela (a imprensa, no caso do Brasil, o PIG) fosse total detentora da verdade e isso por um simples motivo: porque ela é IMPARCIAL, isenta de qualquer opinião, apenas apresenta os fatos. Quem nunca ouviu estes argumentos dos jornalistas mais amados do PIG? Pra quem acredita em Papai Noel, tá bem... Mas vá lá, seria mais decente se eles respeitassem a nossa inteligência pelo menos um pouquinho e muito mais honesto se eles tivesse a coragem para definir sua visão política de mundo e de sociedade. Menos velhinhas de Taubaté, mais debates de idéias. Não entendo por que eles têm "vergonha" de se definirem conservadores (alguns conservadores E reacionários), de defenderem suas idéias de forma transparente. Qual é o medo que eles têm em dizer que são a favor da velha elite brasileira, do "macho adulto branco sempre no comando", como já disse Caetano? O que eles temem? Pergunta idiota...
Segue o texto:

Neste contexto, é oportuna e apropriada a releitura de “A Ironia da Liberdade de Expressão” (Editora Renovar, 2005), pequeno e magistral livro escrito pelo professor de Yale, Owen Fiss, um dos mais importantes e reconhecidos especialistas em “Primeira Emenda” dos Estados Unidos.

Fiss introduz o conceito de “efeito silenciador” quando discute que, ao contrário do que apregoam os liberais clássicos, o Estado não é um inimigo natural da liberdade. O Estado pode ser uma fonte de liberdade, por exemplo, quando promove “a robustez do debate público em circunstâncias nas quais poderes fora do Estado estão inibindo o discurso. Ele pode ter que alocar recursos públicos – distribuir megafones – para aqueles cujas vozes não seriam escutadas na praça pública de outra maneira. Ele pode até mesmo ter que silenciar as vozes de alguns para ouvir as vozes dos outros. Algumas vezes não há outra forma” (p. 30).

Fiss usa como exemplo os discursos de incitação ao ódio, a pornografia e os gastos ilimitados nas campanhas eleitorais. As vítimas do ódio têm sua auto-estima destroçada; as mulheres se transformam em objetos sexuais e os “menos prósperos” ficam em desvantagem na arena política.

Em todos esses casos, “o efeito silenciador vem do próprio discurso”, isto é, “a agência que ameaça o discurso não é Estado”. Cabe, portanto, ao Estado promover e garantir o debate aberto e integral e assegurar “que o público ouça a todos que deveria”, ou ainda, garanta a democracia exigindo “que o discurso dos poderosos não soterre ou comprometa o discurso dos menos poderosos”.

Especificamente no caso da liberdade de expressão, existem situações em que o “remédio” liberal clássico de mais discurso, ao invés da regulação do Estado, simplesmente não funciona. Aqueles que supostamente poderiam responder ao discurso dominante não têm acesso às formas de fazê-lo (pp. 47-48).

Creio que o exemplo emblemático dessa última situação é o acesso ao debate público nas sociedades onde ele (ainda) é controlado pelos grandes grupos de mídia.

Censura disfarçada
A liberdade de expressão individual tem como fim assegurar um debate público democrático onde, como diz Fiss, todas as vozes sejam ouvidas.

Ao usar como estratégia de oposição política o bordão da ameaça constante de volta à censura e de que a liberdade de expressão corre risco, os grandes grupos de mídia transformam a liberdade de expressão num fim em si mesmo. Ademais, escamoteiam a realidade de que, no Brasil, o debate público não só [ainda] é pautado pela grande mídia como uma imensa maioria da população a ele não tem acesso e é dele historicamente excluída.

Nossa imprensa tardia se desenvolveu nos marcos do de um “liberalismo antidemocrático” no qual as normas e procedimentos relativos a outorgas e renovações de concessões de radiodifusão são responsáveis pela concentração da propriedade nas mãos de tradicionais oligarquias políticas regionais e locais (nunca tivemos qualquer restrição efetiva à propriedade cruzada), e impedem a efetiva pluralidade e diversidade nos meios de comunicação.

A interdição do debate verdadeiramente público de questões relativas à democratização das comunicações pelos grupos dominantes de mídia, na prática, funciona como uma censura disfarçada.

Este é o “efeito silenciador” que o discurso da grande mídia provoca exatamente em relação à liberdade de expressão que ela simula defender.

Venício A. de Lima é professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010.

Um comentário:

  1. SORA CITA MEU BLOG NO SEU!!!!!!

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    \o/


    (By : Raul na casa do saymon ^^ )

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