terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Crianças sob pressão - Carl Honoré

Retirado do site do Extraclasse (Sinpro). Lá tem a entrevista completa!

"Considerando tempo, dinheiro e energia que investimos em nossas crianças, deveríamos ter a mais feliz, saudável e habilidosa geração que o mundo já viu. Mas não é isso que está acontecendo. A começar com a saúde. Presos dentro de casa ou transportados nos bancos de trás dos carros, as crianças estão crescendo cada vez mais rápido. (...)
Crianças excessivamente controladas podem ficar perdidas quando precisam tomar decisões sozinhas. (...) Estamos matando a simples alegria de ser criança – o que Willian Blake chamava de “ver o mundo num grão de areia eternamente na palma de sua mão”. Estamos transformando a infância em uma corrida muito distante de um mundo mágico.
Os pais sempre tiveram orgulho das realizações de seus filhos e sempre usam os filhos para compensar a sua própria frustração. (...) Estamos vivendo para os nossos filhos mais do que qualquer outra geração na história. Investimos emocionalmente em seu sucesso, olhamos para eles para nos sentir orgulhosos, felizes, para compensar nossas falhas. Estamos tão ligados em suas vidas que até mesmo falamos de nossas crianças na terceira pessoa do plural: “nós temos muita lição de casa”, “nós jogamos futebol no domingo”, “estamos concorrendo para Harvard”. Como pais, precisamos garantir que nossas próprias neuroses e frustrações não estejam guiando nossos filhos. (...)
Crianças que estão sob pressão para serem perfeitos podem acabar menos criativas. Elas não têm o tempo ou o espaço para explorar o mundo em seus próprios termos, para aprender a correr riscos e cometer erros. Elas não aprendem a pensar por si mesmas, apenas fazem o que é dito. Também não aprendem a olhar para dentro de si para descobrir quem são, porque estão muito ocupados tentando ser o que nós queremos que sejam. Elas também podem sofrer de mais estresse e exaustão. E não aprendem a usar o tempo, ou como preencher o tempo por conta própria – então se entediam mais facilmente. Crianças que tiveram todos os momentos de suas vidas gerenciados, organizados, controlados e programado pelos adultos, dificilmente conseguirão andar com seus próprios pés. Em outras palavras, eles nunca crescem. É por isso que os estudantes universitários estão sofrendo problemas de saúde mental em números recordes. (...)
Temos uma geração pós-60 do ‘viva e deixe viver’. A cultura Peter Pan glorifica a juventude e não os incentiva a crescer. Estamos tão próximos emocionalmente de nossos filhos – muitos pais os descrevem como seus “amigos” – o que torna mais difícil dizer “não”. (...)
Ouça e observe seu filho. Uma criança não é um projeto, produto, troféu ou um pedaço de argila que você pode moldar como uma obra de arte. Uma criança é uma pessoa que vai prosperar se você permitir que ela seja protagonista de sua própria vida. (...)
A mídia retrata as crianças como acessórios de moda. (...) A mídia também adora o pânico e o medo e exagera o quão perigoso o mundo é para nossas crianças. As escolas e os professores desempenham um papel muito importante nesse sentido. (...) Acredito que os professores estão tomando a liderança no enfrentamento da cultura de pressionar as crianças – porque são eles quem mais enxergam as consequências. (...)
Para mim, a educação paciente é a que traz equilíbrio para a casa. As crianças precisam se esforçar, mas isso não significa que a infância seja uma disputa. Pais pacientes dão aos seus filhos mais tempo e espaço para explorar o mundo com seus próprios limites. (...) Aceitam que dar o melhor de tudo pode não ser sempre a melhor política, porque nega uma lição de vida muito mais útil de como fazer o melhor com aquilo que temos. Educação paciente significa permitir que os nossos filhos trabalhem quem eles são e não o que nós queremos que eles sejam. Isso significa deixar as coisas acontecerem em vez de forçá-las. Significa aceitar que as mais ricas experiências de aprendizagem não podem ser resumidas em um currículo. Pais pacientes entendem que a educação não deve ser um cruzamento entre um esporte competitivo e um produto em desenvolvimento. Não se trata de um projeto, é uma viagem de descoberta. Educação paciente é dar muito amor e atenção às crianças, sem impor quaisquer condições."

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